o documentário da Anitta e a falta de noção
isso não é uma crítica, é uma pequena reflexão
eu assisti o documentário Larissa, o outro lado de Anitta e isso é a prova de que a crítica negativa realmente funciona como promoção.
muitos perfis que eu sigo no instagram estavam tirando sarro ou falando mal do filme. principalmente por conta de uma das últimas cenas onde Larissa vira pra câmera e diz: “você não pode decidir ser feliz também? então por que você não está sendo até agora?”
“papo de coach”, “pobre fica rico e vira sem noção”, “com o dinheiro que ela tem é fácil pregar essa papo”. eu li desde essas críticas rasas até análises mais profundas sobre a problemática (se tem essa palavra, é profundo) do discurso num país onde as pessoas não tem tempo pra pensar em felicidade porque precisam sobreviver.
resultado? fui assistir pra falar mal com embasamento.
mas o tiro saiu pela culatra e a verdade é que eu me vi muito na Larissa. me vi na empolgação e na timidez, no tom quase infantil que ela tem quando tá apaixonada, na relação com a família e na busca espiritual.
me vi na tentativa de eliminar um desconforto provocando outro: no auge da exaustão, ao invés de parar e se cuidar, ela decide escalar o monte Everest. sim. apenas o pico mais alto do planeta. sabe? sei nem o que dizer…
eu não tenho pretensão alguma de escalar o monte Everest, mas foram muitas as vezes em que, no auge do cansaço, eu me coloquei desafios ainda maiores para não parar e lidar com o enorme desconforto que eu estava sentindo. você não?
me vi também nessa cena dela bêbada na praia sentindo uma felicidade absurda e fazendo discursos motivacionais. fala a verdade: a única diferença entre ela e a gente é que ela filmou e mandou pra Netflix. ou nunca na sua vida você sentiu uma alegria gigantesca, teve um momento de epifania e começou a bradar aos quatro ventos sobre como a vida é simples, como a gente não precisa de muito pra ser feliz e blablabla? foi o que pensei.
me vi na vontade enorme de largar tudo. vira e mexe eu tenho essa vontade e olha que o meu “tudo” vale centavos perto do “tudo” dela. uma vontade de sumir, silenciar, fugir. nunca sentiu?
e também não me vi em inúmeras outras coisas. a maioria, na verdade. aquela não é a minha realidade e mesmo assim eu encontrei pequenos pontos de encontro. e o que não fez sentido, simplesmente deixei passar.
semana passada eu recebi uma mensagem no instagram de uma pessoa incomodada. eu disse nos stories que eu gosto de acordar e me maquiar para ficar pronta pro dia. ela me mandou: “acho isso lindo. mas é impossível quando você é mãe”.
aquilo me pegou em dois sentidos. o primeiro é mais profundo, talvez polêmico. eu sou uma mulher sem filhos que deseja muito ser mãe. quando ela me mandou aquela mensagem, não me desceu bem. eu senti como se a minha experiência não fizesse sentido ou fosse menor, mais fácil, menos real. me senti uma garota inexperiente. me senti diminuída.
deixo claro que o que senti nada tem a ver com a pessoa que me escreveu, até porque ela não escreveu na maldade. isso é um problema meu. é como eu me sinto quando algo assim acontece e cabe a mim lidar com isso.
depois numa outra conversa, essa mesma pessoa me “sugeriu” que eu fosse mais inclusiva nas minhas falas. discordei com força! é humanamente impossível dar conta de acolher todas as dores e causas do mundo.
e eu tentei. tentei por muito tempo ser o mais neutra possível para não tumultuar. resultado? fui me tornando rasa, sem personalidade. fui silenciando vontades, desejos e pensamentos, fui deixando de me mostrar inteira. e eu cansei. meu Deus, como eu cansei!
me leia com atenção: você não vai dar conta de ser justa com todas as realidades o tempo inteiro. até porque você nem conhece todas elas. eu não quero que você carregue essa culpa que só te diminui. eu mesma não vou mais carregar. jogo fora todas as minhas expectativas de agradar.
até porque, convenhamos, querer ser agradável o tempo inteiro te torna uma pessoa levemente insuportável. ninguém é feliz e bonzinho toda hora. eu não sou, apesar de saber performar muito bem esse lado.
óbvio que ter senso crítico é o mínimo que se espera de uma pessoa. e isso eu prometo nutrir. mas eu conto você aí do outro lado para nutrir a mesma coisa e saber ficar com o que te toca e deixar pra lá o que não faz sentido.
da mesma forma que toda quinta-feira eu trabalho em terapia tudo o que a internet causa na minha vida, eu espero que você também saiba lidar com seus gatilhos e feridas como uma pessoa adulta. ou seja: se responsabilizando pelo seu processo.
Larissa é só uma mulher. eu sou só uma mulher. você que me lê também é só um ser humano. e aqui, nesse ponto de humanidade, a gente consegue se encontrar independente do que cada um vive. aqui a gente sente as mesmas coisas. aqui a gente volta a só existir.
antes que eu me esqueça…
ainda restam algumas vagas para a Amazen Liderança Feminina, mulher! bora conhecer a Amazônia enquanto vive uma imersão em liderança comigo e com as líderes ribeirinhas? não é simplesmente algo que você vai aprender, são movimentos que vão te transformar profundamente. todos os detalhes aqui.
últimas 4 vagas para a Mentoria Comunicação Desejante até a pausa (que acontecerá em junho).
curadoria da semana:
🎧descobri essa música no tiktok e ela me dá uma sensação boa demais
🎬assisti o filme G20 com a Viola Davis porque qualquer coisa que a diva se mete a fazer, eu tô lá. além dela, Antony Starr também está no elenco e eu sou doida por ele que é o Capitão Pátria de The Boys (amo). é um filme de ação onde a protagonista é praticamente uma super-heróina. achei super divertido ver uma mulher nesse papel que seria facilmente do Denzel Washington.
📚o tanto que eu amei essa news da
sobre millenials e as tiny houses, vocês não tem noção. leiam! principalmente se vocês já pensaram em viver com pouco.
Eu vejo muitas pessoas falando: “se eu tivesse o dinheiro dela eu também seria feliz”. Seria mesmo? Será? Existem pessoas que nunca estão contentes com nada e geralmente são pessoas que falam frases como essa.
Essas alfinetadas sobrepondo uma realidade a outra são extremamente problemáticas, porque partem da premissa que para uma realidade ganhar visibilidade é preciso ofuscar a outra e diminui-la, caindo numa hierarquia de realidades completamente distintas e desnecessárias de comparar
(até porque são incomparáveis, então pra quê competir?)