me sinto completamente deslocada.
logo eu, a mentora que facilita o caminho para mulheres viverem de seus desejos?
eu ando me sentindo em um limbo. e talvez você que me lê também esteja, então vou te contar na tentativa de me sentir menos sozinha nessa, tá bem?
mas antes, se você está me lendo do seu e-mail, quero te sugerir de conhecer o cantinho onde todas as news são publicadas e ficam salvas pra você poder ler quando quiser. como uma biblioteca (eu amei fazer essa comparação). é só clicar aqui! uma sugestão: considere ter o app do substack no seu celular ou tablet. a leitura fica ainda mais confortável e ritualística.
eu sou uma mulher de quase 34 anos, quase casada e completamente sem filhos (nem de pet eu cuido). de um lado, tenho um grupo de amigas solteiras que sempre me contam sobre suas vidas, aventuras em aplicativos, dates ruins, dates bons, etc. do outro, amigas ou familiares já com filhos.
na roda das amigas solteiras, eu sou a tia véia que descobriu recentemente o que é “conversante” (e simplesmente odiei o conceito. meu Deus, como a gente complica as coisas tentando facilitá-las!). na roda das mães, eu sou aquela que não tem assunto. eu vou falar o que sobre hábitos alimentares ou sono de criança? por isso, quando estou elas, foco nos filhos. você vai sempre me encontrar brincando ou cuidando de uma criança nessas situações.
importante dizer que estou frequentemente entre mães, mas elas não são minhas amigas. são amigas da família que temos aqui onde moramos. estamos sempre juntas, mas não nos conhecemos de fato. tenho certeza de que se fossem minhas amigas, teríamos muuuuuuito assunto além da maternidade.
fato é: me sinto completamente deslocada.
e é a primeira vez que me sinto assim. com um ponto de desencaixe entre um grupo e outro. sou casada, mas não oficialmente. não vivi a festa, o cartório, a celebração. tô fora da vida de solteira desde 2018 e sou demissexual. não sei opinar quando o assunto é date casual porque nunca foi o meu rolê. pra você que não sabe: uma pessoa demissexual só sente desejo sexual quando existe uma conexão real. então nunca foi um problema pra mim ficar meses sem transar. já cheguei a ficar um ano e não sofri nadinha.
não encontro um lugar para falar sobre meu desejo de maternidade e todos os desafios que estão surgindo disso. emocionalmente, são muitos. me parece um tanto desinteressante para quem não está vivendo o mesmo e um grande nada para quem já passou por isso porque sempre que eu falo sobre o que sinto, sou recebida com uma risada de canto de boca e um: “ahhh fica tranquila! tudo se ajeita depois que a criança vem! vocês estão se preocupando à toa!”. eu acredito. mas não deixo de sentir.
minhas amigas em situações parecidas que a minha são pouquíssimas. acho que duas, para ser mais exata. casadas e no processo de abrir espaços para uma criança chegar. mas engraçado é que dividimos bem pouco sobre esse processo. será que elas também se sentem deslocadas? será que estão sentindo tudo sozinhas?
enquanto te escrevo essa newsletter, mando mensagem para uma delas.
talvez eu mesma esteja me isolando. talvez minhas amigas solteiras e sem o menor desejo de se tornarem mães recebam super bem minhas inquietações. talvez eu mesma não esteja falando em voz alta sobre isso porque estou tentando evitar sentir o desejo latente que me habita.
logo eu, a mentora que facilita o caminho para mulheres viverem de seus desejos? sim. logo eu. porque, graças a Deus, eu sou uma pessoa de verdade e que justamente por sentir de verdade, me sinto apta a guiar de verdade (pequena intervenção de um diálogo interno ao vivo, hein?).
encarar o desejo não é tarefa fácil. ele vem com uma malinha que te diz tudo o que vai mudar na sua vida quando você assumir pro mundo que ele existe. e, principalmente, quando você aceitar vivê-lo.
falar sobre o meu desejo tem sido agridoce. todos os outros eu tirei de letra. talvez porque nenhum outro tinha o poder de mudar pra sempre quem eu sou de maneira tão profunda. eu podia ir embora de qualquer um. eu jamais poderei ir embora de um filho.
nada será como antes. mas nada nunca é como antes, de fato.
eu sei todas as teorias. eu sei que o medo passa quando a realidade chega. eu sei que todos esses problemas parecerão minúsculos no momento em que eu me deparar com os olhinhos vivos do ser que eu ajudei a vir ao mundo. eu sei. eu juro que sei. mas enquanto essa não é minha realidade, eu lido com medos, incertezas e uma sensação de solidão.
o limbo do momento-entre. aquele espaço de tempo suspenso onde algo já está decidido, mas ainda não aconteceu. um espaço vazio e, justamente por isso, aberto para todo e qualquer tipo de pensamento.
esse é um assunto bastante sensível pra mim. mas decidi escrever sobre ele por saber que pode existir alguém aí do outro lado precisando se sentir menos sozinha.
o meu conselho pra você é: não fuja do que deseja. o momento-entre passa. é só uma fase de transição, um rito de passagem. e é desconfortável mesmo, é caótico mesmo, é chato mesmo. mas é onde toda transformação se dá.
eu tenho me lembrado das palavras que um dia a
me escreveu e aproveitado meu tempo para ser minha, enquanto não me divido em outro ser. quando as inseguranças vem, eu penso no que quero fazer. leio mais páginas do meu livro, assisto a série que gosto, abraço o Lucas por mais tempo ou simplesmente fico em silêncio olhando o mar.estou focada em não acelerar o tempo. não estou lá ainda. estou aqui. e aqui tem um tanto de coisa bonita acontecendo.
o presente é um lugar seguro.
antes que eu me esqueça:
aqui você conhece os detalhes do meu processo de mentoria na Comunicação Desejante. um trabalho guiado com cuidado, presença, pitadas de magia e estratégia. estruturamos juntas os seus bastidores para que quando chegue a hora de mostrar quem você é e expressar o que você cria, você nunca mais se esconda.
aqui você se torna patrocinadora desta newsletter e se escolher o plano anual, ganhará de presente um workbook com exercícios de escrita auto investigativa para você começar a nutrir e cultivar uma relação gostosa consigo — porque não basta se conhecer, é preciso se relacionar com você.
aqui você conhece os detalhes da vivência Amazen Liderança Feminina que vai acontecer no feriado de Corpus Christi na Amazônia! sem falsa modéstia, eu posso te garantir: será a experiência mais transformadora da sua vida. foi assim por aqui. as vagas são limitadas, hein?
curadoria da semana:
🎧eu adoro a companhia da Flor e do Manu para refletir sobre o amor e mente humana
🎬a verdade sobre mim é que eu quero um quarto e um banheiro iguais ao da Anitta
📚esse texto onde minha amiga
conta o que aprendeu sobre dinheiro vai abrir a sua mente e colocar informações que vão mudar a sua visão sobre o tema.
oi Yna! eu passei por algo semelhante entre meus 30 e 34 anos em que eu desejava muito ser mãe, mas não engravidava, meu parceiro tava de boas e eu sentindo o peso da maternidade compulsória. eu não conseguia verbalizar isso corretamente (o início da tentativa de engravidar tem mais de dez anos) e as mulheres ao meu redor não falavam sobre não ter filhos ser uma opção. quando eu finalmente engravidei eu fiquei tão feliz de passar por aquele momento, tão meu, mas não lembro de dividir essa sensação com alguém. depois ela nasceu e, bem. um mundo novo, um eu novo, muita coisa pra descobrir, elaborar e não surtar (surtei). o que eu acho, de fato, é que o mundo parece ter a paciência pra ouvir um ou outro lado de uma mulher - nunca a dúvida, a complexidade, a indecisão. parece que esse caminho do meio ainda não foi aberto pra nós. “eu desejo ser mãe?” eu descobri muito depois que minha filha nasceu que sim, foi o que eu mais desejei. e quando eu olho pra ela sinto o terror e a maravilha de não poder voltar mais atrás, ela será minha pra sempre e eu serei dela pra sempre - o que quer dizer que vou me preocupar quando ela voltar de um rolê só pela manhã ou se ela for hétero. Mas eu nunca mais vou desver a risada dela, a voz de gatinho falando “mamãe”, ela me contando que “nanã” tem duas sílabas. pra quem eu conto isso tudo quando transborda de mim? aliás, pra quem contamos tudo quando transbordam desse nosso corpo de mulher qualquer coisa? pq não só as mães estão plenas, tantas nós transbordam e não sabem o que fazer com esse transbordo. precisamos tanto tanto ouvir um pouco mais as mulheres que nos rodeiam. só mais um pouco. e aí talvez consigamos ver que ali mora um sonho, ou uma desilusão, que ali um rio encheu e inundou as margens.
Se eu já te admirava, saiba que agora te admiro ainda mais, Yna. Como é lindo te ver se abrindo dessa forma, falando da solidão de um dos tantos lugares solitários da maternidade. Por aqui, ao acabar te de ler, eu fico com a certeza de que esse novo cafofo que eu estou criando para as mães no Substack há de ser um lugar acolhedor não só para as mães de filhos fora ou dentro da barriga, mas também para as mulheres que maternam o desejo — quem está nesse espaço-entre, as tentantes, desejantes, planejantes, as nas filas de adoção.
Obrigada por falar desse lugar tão íntimo. Que essa edição chegue longe e seja bálsamo para muitas mulheres! ❤️ um forte abraço!