com medo de te perder, me tornei assustadora
eu sei que exagerei. vou culpar meu mapa astral.
eu sempre tive uma necessidade ansiosa de provar o meu valor. pra mim, as pessoas sempre estavam prestes a ir embora e era minha missão fazê-las ficar. mesmo que isso me custasse muito.
fiz análise por 4 anos (e esse ano estarei de volta pra uma nova temporada depois de um hiato de uns bons meses), e no processo entendi que isso é consequência de algumas histórias que vivi na infância com algumas amigas.
meu primeiro término foi de amizade. aos 13 anos, minha melhor amiga parou de falar comigo do absoluto nada. isso me dilacerou. principalmente porque eu não sabia o que tinha feito pra que isso acontecesse. um dia estávamos bem e nos amando, no outro chego na escola e… acabou. nem falar comigo ela veio, eu soube por outros amigos que eu não era mais bem-vinda ali.
existiram outras situações, mas eu não vou me alongar aqui. fato é que eu internalizei um desespero de perder as pessoas que se estendeu para relações amorosas. eu era o tipo de pessoa que tentava ao máximo não chatear o outro: sempre de bom humor, sempre tranquila, sempre compreensiva. até que alguma coisa me incomodava. e quando eu ia falar, boom! era o fim.
mas eu também não sou apenas vítima dessa situação. eu me tornei levemente assustadora. juro que eu mesma teria medo de mim. sabe aquela música da Clarice Falcão: “eu queria tanto que você não fugisse de mim, mas se fosse eu, eu fugia”? bem isso.
quando eu me apaixonava pela ideia que eu fazia de alguém, eu queria porque queria que essa pessoa suprisse essa idealização. eu insistia, sabe? ia com muita sede ao pote e já me via de noiva depois do primeiro encontro. uma coisa meio Carrie e Big, se você assistiu Sex And The City. levemente tóxica e problemática das ideias.
eu fazia a mais. me doava demais. entregava uma mala imensa pra quem só tinha me pedido um porta moedas. perdão, galera! eu sei que exagerei. vou culpar meu mapa astral e o fato de que tudo isso aconteceu antes do meu córtex pré-frontal não estar completamente desenvolvido, ok? mas nós sabemos bem que era apenas falta de análise…
mas como um vírus em busca de outro hospedeiro, quando me livrei dele no campo dos relacionamentos, ele encontrou abrigo no meu trabalho. foi aí que eu me tornei a pessoa do overdelivery — ou excesso de entrega.
fazer mais, entregar mais, postar mais, responder uma simples DM em áudios longos ou textões pra pessoa se sentir bem, colocar mil bônus e materiais dentro de um curso para “gerar valor” — o que na verdade quer dizer: para justificar o preço dele que eu mesma não me sinto confortável em cobrar e tenho medo que as pessoas achem caro e não comprem, então vou dar muitas coisas pra elas ficarem felizes e perceberem que vale a pena e que eu sou legal.
o resultado, você sabe: exaustão e uma sensação eterna de desvalorização.
e quando eu achava que já estava curada disso nessa área também, surgiu esse espaço aqui no substack e a possibilidade das pessoas patrocinarem a minha newsletter.
antes mesmo de eu divulgar essa possibilidade, umas 2 pessoas assinaram. pronto, me veio a urgência de recompensá-las de alguma forma. criei, então, um podcast exclusivo… que ninguém ouvia. fiz uma enquete e descobri que elas preferiam textos mesmo. ótimo! então vou criar seções novas com textos inéditos! e assim o fiz. mas nunca me senti satisfeita com isso. sempre achei pouco. bem pouco.
eu queria dar alguma coisa pra retribuir pra elas se sentirem contempladas, de alguma forma. eu precisava, eu estava devendo isso a elas. mas estava mesmo?
eu não escolho patrocinar newsletters pelo que eu recebo a mais, mas pelo que eu já recebo gratuitamente. confesso que patrocino menos do que gostaria por questão de orçamento, mas tenho me programado para investir nas minhas preferidas esse ano. porque eu acredito nesse trabalho que é feito artesanalmente e com tanta vulnerabilidade aqui. eu valorizo cada pessoa que escolhe mostrar quem é e expor o que cria. eu sei que não é tranquilinho, eu sei o quanto isso custa. e eu acho justo que seja reconhecido e remunerado.
e aí eu pensei: se eu penso assim das pessoas, por que não penso assim de mim?
e foi aí que descobri que o maldito vírus continuava por aqui.
e eu não o quero mais aqui. não quero mais ficar desesperada e inventar mil formas de “valorizar o meu passe” e não conseguir sustentá-las porque elas não foram pensadas. não passam de ideias desesperadas.
lembra que esse ano eu decidi que a vida é linda e que eu tenho tempo? pois bem, eu preciso de um tempo pra decidir o que vou entregar a mais pra quem escolher patrocinar a Desejante. eu não vou escolher no desespero.
então, chegou a hora de eu te dizer que caso você sinta de patrocinar este trabalho que é feito semanalmente com muita dedicação, entrega e cuidado, será uma grande honra pra mim.
eu estou pensando em algo bem legal para entregar pras minhas comadres (como eu chamo as 9 patrocinadoras desejantes), mas ainda não decantei completamente a ideia. por enquanto, o que eu fiz foi:
abaixei o preço do plano mensal, de R$29 por R$15
o plano anual segue pelo mesmo valor e você ganha de presente o Manual da Mulher Adulta (um workbook lindão e poderoso que eu escrevi com exercícios de escrita auto investigativa)
deixei aberto um plano personalizado onde você escolhe o valor que deseja investir
caso faça sentido pra você ser uma comadre patrocinadora desse projeto, será uma grande honra te receber. pras que já são: o apoio de vocês me emociona. de verdade. vocês são como shots de autoestima e ânimo praqueles dias em que a insegurança e o cansaço tomam conta. eu sou profundamente grata.
essa história toda tem me ensinado a receber. como é difícil receber sem querer urgentemente preencher o vazio que isso traz, né? retribuir, devolver na mesma moeda, “pagar a dívida”. me livrar do incômodo que um simples elogio provoca com a rapidez de quem se livra de uma panela fervendo. você também já se sentiu assim?
sinto que já avancei bastante em várias áreas. aceito elogios sem me ver obrigada a elogiar a pessoa, aceito presentes sem pensar que preciso comprar algo para retribuir, aceito ajuda sem me sentir menor… mas ainda tenho alguns pontos fracos. e talvez sempre terei. acho que não é sobre não tê-los, mas sim sobre aprender a lidar com eles.
talvez você que me lê esteja com uma dificuldade enorme em cobrar o justo pelo que você faz ou em aceitar uma ajuda, um elogio, um agrado. eu quero te dizer que você não precisa dar tudo o que você tem até não sobrar nada que te sustente para que o outro te valorize. isso é abusivo.
não faz sentido você justificar o seu preço com uma entrega que faria o seu trabalho valer 10x mais. continua injusto, desequilibrado.
você não precisa retribuir um elogio com outro ou um presente com outro do mesmo valor (a não ser no amigo secreto de final de ano, aí é o mínimo!). eu sei que é difícil acreditar, mas as pessoas nem sempre te elogiam ou presenteiam porque querem algo de você. muitas vezes elas querem apenas te fazer feliz.
eu espero que esse texto tenha te lembrado que o seu valor não está apenas no que você faz, mas em quem você é. e que se alguém não enxerga isso, não cabe a você convencê-lo do contrário com justificativas e excessos. abra espaços para receber quem te vê de verdade.
ah! mas essas pessoas só vão te encontrar se você ousar aparecer.
assim como você me encontrou…
viu? é possível.
curadoria da semana:
🎧eu não consigo colocar em palavras o que essa música me faz sentir
🎬o podcast voltou, família!!! e ele está na indicação audiovisual porque vou deixar aqui embaixo o link para o youtube, mas você também pode ouvi-lo no spotify, tá bem?
📚eu gosto muito da newsletter da
, a . ela é uma tarde gostosa tomando café com uma amiga, sabe? essa sensação que tenho.
Tenho refletido muito sobre isso.. essa necessidade de mais e mais e mais e mais e melhor e mais e mais e melhor e mais e melhor e mais. E a única conclusão que cheguei é que um pouquinho bem feito, costurado com as linhas da entrega e da verdade, é exatamente a medida que me parece suficiente.
Seu texto me vem como uma confirmação, dessas super pontuais. Obrigada! Me sinto honrada de ser comadre e sinto que, esses ouros que chegam na segunda-feira já são tudo que eu preciso ou espero, o que vier a mais é cereja no bolo, e sabe? Bolo sem cereja também é tão tão tão bom! ❤️
Que texto perfeito! Parece que foi escrito de mim para mim hehehehe sensação maravilhosa de ser contemplada por palavras de outra pessoa que parecem feitas sob medida pra caber em nossos dilemas 🤍