voltando de SP pra casa, assisti o documentário da Luísa Sonza, disponível na Netflix. eu gosto da Luísa desde que ela lançou Doce22 e entre uma música vendável e outra, ela trouxe sua arte. ali eu me conectei. Melhor Sozinha e Penhasco me emocionaram e eu adoro.
eu sempre gostei muito de descobrir pessoas novas na música. desde sempre. e eu encontrava muita gente boa que nunca virava mainstream. ou seja, nunca estava na grande mídia. e aí logo saía de cena, a gente nunca mais ouvia falar. de repente você pesquisa e vê que continuam fazendo shows, mas em pequenos espaços e numa frequência menor. como artista, eu sempre me perguntei: “será que tá dando pra viver da música?”
o que é arte?
essa pergunta gera um debate imenso e muitas controvérsias. pra mim, arte é o que te faz sentir e questionar. você não passa ilesa por ela. até quando ela te diverte, ela te vira do avesso. arte é a expressão mais pura do invisível. não é racional, calculado e muito menos produzido a toque de caixa. a arte precisa do tempo. não existe sem ele, sem a pausa, o ócio, o vazio. ela é sentida com os 5 sentidos e desperta nossa conexão com o sexto. e é pessoal: o que te toca pode não me tocar, e vice-versa. mas se eu acho difícil determinar o que é arte, eu tenho uma visão do que não é.
o que não é arte?
tudo aquilo que é feito para te distanciar de si e dos questionamentos da vida. fórmulas prontas, palatáveis, fáceis de engolir que você simplesmente reproduz sem pensar.
arte vende?
assistindo o documentário, percebi uma necessidade gritante da Luísa de produzir o que ela deseja. ela quer ser ouvida e vista. quer expor sua visão de mundo, mas sabe que o que vende é a coreografia que exige joelheira e uma lombar de 20 e poucos anos. ela fala do tanto que tá cansada e do tanto que gostaria de mostrar esse outro lado.
Manu Gavassi postou essa semana em seu instagram um vídeo perfeito que ilustra esse dilema e eu recomendo fortemente que você assista.
arte é extremamente vendável. essa não é a questão. e o que me preocupa não é a venda. vender é preciso. como disse
em sua última news:“todo mundo vende, faça as pazes com isso no seu coração. se você não empreende – e, portanto, não vende os seus próprios produtos/serviços – você vende as suas horas e sua força de trabalho para uma empresa que vende algo. ela faz o esforço de vender algo por você, e você vende seu tempo/força para ela. assim como, para ser contratada você precisa saber se vender. no capitalismo (ame ou odeie) todos vendemos algo. pare agora mesmo de criticar que vende algo.”
o que me preocupa é no quanto o tempo todo estão tentando nos dizer o que gostar e consumir. e se não estivermos atentas e autoconscientes, vamos fatalmente cair nessa cilada. atualmente tudo precisa ser rápido, imediato e com potencial para viralizar. e você percebe que mesmo cansadas e reclamando da tiktokzação do mundo, as pessoas estão perdendo a paciência de assistir um story de 1 minuto ou ouvir um áudio de 2 minutos da melhor amiga sem acelerar 2x?
o que vende não vende à toa. vende porque alguém compra e, nesse caso, socialmente estamos comprando a ideia do raso e rápido. não só na música: no fazer dinheiro, na conexão espiritual, no passe de mágica que resolve todos os seus traumas em uma única sessão.
perde-se os olhos críticos e aceita-se a narrativa vendida. e depois dizem que a humanidade está perdida e que “no meu tempo era muito melhor”.
nosso tempo é agora.
aprendendo a navegar
esse mundo exige da gente. as regras não são nossas e é uma ilusão acreditar que são. o melhor a fazer é aprender a navegar da forma mais condizente aos nossos valores.
dentro do meu trabalho, faço anúncios estratégicos que acionam dores e desejos da minha cliente ideal. também crio conteúdos com algumas técnicas para facilitar a viralização. me preocupo com as métricas e com as vendas. afinal, eu vivo disso. jogo o jogo, faço o que é preciso. mas mantenho em tudo o meu limite. e confesso que só sei qual é hoje porque já atravessei essa linha algumas vezes.
e claro: já julguei muito quem vende. já chamei vendedor de invasivo e insuportável, já chamei artistas da tv de “vendidos”. já falei: “nossa, ela não precisa disso” pra alguém com clipe polêmico e já achei bizarro quem vende na internet. mordi a língua com gosto, acho que até arrancou um pedaço. e hoje eu percebo como eu era ingênua e arrogante. “boa demais” para me submeter a isso (na minha cabeça a Dona Florinda está me dizendo para não me misturar com essa gentalha hahaha).
criticar o sistema é parte da arte, mas para que essa crítica tenha efeito, é preciso que a gente tenha voz. Milton Nascimento disse que “todo artista tem que ir aonde o povo está”, mas sinto que tem gente que pensa que isso só vale pra quando o povo está dentro de um teatro bonito citando Foucault (que eu nunca li, mas sempre citam quando algo é cult, então aqui está). eu achava também.
se queremos que a arte ganhe um valor no mundo, precisamos habitá-lo. precisamos estar bem inseridas nele. o máximo possível. teve muita gente que descobriu Clarice Lispector por causa do clipe de Penhasco, da Luísa Sonza. é disso que eu tô falando. é preciso romper a bolha. botar no que vende aquilo que pulsa. pasito a pasito a gente se infiltra.
um pouco de like, um pouco de insight
vender não é errado, não é feio, não é desumano, não é menos artístico. fazer dinheiro não te diminui enquanto profissional. você pode e deve cobrar pelo que você cria. você pode e deve fazer dinheiro. você pode e deve seguir estratégias e tendências desde que você coloque sua impressão digital nelas. você não perde sua carteirinha de ativista por um mundo melhor por conta disso, pelo contrário: você finalmente encontra os meios de ativamente fazer a sua parte.
cansa? cansa!
eu sei que cansa. eu me canso também. tem vezes que quero sumir ou postar apenas fotos aleatórias das plantas do meu quintal. foda-se. mas… eu escolhi viver de algo que me proporciona a liberdade de criar. eu escolhi fazer dinheiro com o que crio e ensino. eu escolhi fazer do “meu jeito”. mas para fazer do “meu jeito”, preciso seguir regras que não são minhas. e se esse é o preço para levar adiante o meu desejo, eu pago. e assumo os efeitos colaterais.
o tempo não para e sua vida continua em 2024, mas ela pode fluir diferente!
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Não erra nuncaaaa!!! Huhsuashaushasuhsau!! maravilhosa, amei!