sou tímida, mas amo um holofote
os bastidores e as crises existenciais que vive esta que vos escreve
“por que vocês não levam essa menina numa agência? ela precisa ser modelo! ou atriz! qualquer coisa: ela precisa estar na TV!”
meus pais ouviram isso a minha infância inteira. a resposta era muito simples: “porque ela é uma criança. se quando ela crescer, ela quiser. a gente leva!”
eu cresci e eu quis. e eles realmente me levaram. rapidamente eu desisti de ser modelo porque ficar sem comer nunca me apeteceu. escolhi que seria estilista. mas depois, aos 16 anos decidi ser atriz. ouvi a vida toda que era muito bonita e que seria um desperdício não fazer nada com isso. pois bem, de uma forma ou de outra, eu estaria na tv.
te conto isso com um certo incômodo porque falar bem da própria aparência é desconfortável para mim. me acho, sim, uma mulher belíssima, e me sinto arrogante falando em voz alta ou escrevendo em bom português. mas isso faz parte do meu processo atual (que ainda não posso contar em detalhes porque estou no centro da vivência), então bora lá.
bastidores x palco
eu sempre fui muito tímida. e introvertida. me soltava apenas com quem já tinha intimidade e é assim até hoje. no teatro, minutos antes de apresentar uma cena para a turma, eu pensava em desistir toda vez.
ouvi mais de uma vez elogios surpresos de professores. um deles claramente me disse que não esperava nada de mim. nas gírias atuais, a Ynara de 2010 não prometeu nada e entregou tudo.
e por que eu não prometia nada? porque eu tinha pavor de ser vista.
ser vista era ser invadida, no meu vocabulário. quando criança, muitas foram as vezes que adultos me pegaram, me puxaram, me abraçaram sem que eu quisesse.
ser vista também era gerar expectativas.
na escola, eu era considerada uma boa aluna. o erro mínimo que eu cometesse era recriminado com olhares decepcionados seguidos da frase: “eu não acredito. até você?”
com tudo isso, teve um lado meu que sempre se sentiu melhor nos bastidores. eu sei, eu sei. não faz o menor sentido sendo que deixei de ser atriz para me tacar na internet como criadora de conteúdo. mas o que você não sabe é o que te conto agora: as crises que tenho com essa decisão.
crise número: tirar 10
tenho pavor de errar na sua frente. a cobrança da “boa aluna” vem todas as vezes que posto alguma coisa. um bom engajamento é o equivalente a tirar 10. todas as vezes que um conteúdo não vai bem, a primeira sensação que me vem é a de que eu falhei.
crise número 2: os palpites
adoro aparecer, odeio palpites. eu tento há um tempo trazer um pouco da minha vida pessoal porque mesclar meu trabalho de mentora com algumas publis seria bem mara. mas todas as vezes que eu posto algo relacionado à minha rotina ou à minha vida, eu recebo um palpite: “você não deveria usar esse batom”, “não sei se você sabe, mas pasta de amendoim não faz tão bem”… eu fico muito irritada. e eu sei que são ossos do ofício. sei também que muitas dessas pessoas só estão me trazendo algo pro meu bem (sério, não é pessoal). mas eu me sinto invadida e na necessidade de me justificar. e eu detesto essas duas sensações. por isso que o projeto Yna Blogueira segue sendo adiado desde 2017. mas agora que 3 anos de análise se passaram, me sinto um pouco mais preparada. aí vem a…
crise número 3: meu cérebro é uma selva
essa vontade de estar à frente é genuína ou é uma sensação de desperdício já que ouvi isso minha vida toda e continuo ouvindo de parentes amigas e seguidoras que tenho um potencial de ser bem maior do que sou hoje e que eu já poderia estar em outro nível? meu deus isso tá soando muito arrogante todo mundo vai achar que eu sou uma sem noção confeiteira ou é biscoiteira hoje em dia? eu só posso estar me sabotando mas na verdade eu acho que o que eu quero mesmo é me enfiar no meio do mato e deletar minhas redes sociais e sumir e nunca mais ser vista porque eu tô de saco bem cheio do instagram mas eu adoraria fazer umas publis e ser convidada pra uns eventos chiques olha lá eu de novo caindo na cilada da idealização mas é que eu ia amar criar os conteúdos porque o que mais amo é criar os conteúdos mas tô cansada de criar os conteúdos porque preciso ficar ali diariamente para a porra dos números não caírem e quem disse que eu preciso de números? eu preciso de vendas! eu não sou blogueira eu sou mentora eu não tenho que ser blogueira porque eu tô preocupada com isso??? tá vendo? eu não tô colocando energia no lugar certo eu tô…
c a n s a d a.
e você acaba de saber como minha mente funciona diariamente. para mais detalhes, assista o vídeo abaixo:
a cobrança
essa cobrança de ser grande para fazer valer as expectativas dos outros sobre mim só me distanciou de enxergar e me apropriar do meu valor. é como se ele fosse medido por “tudo o que eu não conquistei, mas poderia”.
o desejo
demorei tempo demais pra perceber que já vivo a vida que desejo porque estava preocupada em conquistar o que já tenho.
o desconforto
tá zero confortável te escrever sobre isso. me sinto querendo me justificar a cada frase, mas não vou. eu vou sustentar daqui o desconforto, como ensino minhas alunas e mentoradas a fazerem. porque é nesse lugar estranho que aumentamos nosso campo de resiliência. é no desconforto que aumentamos nossa zona de conforto para vivermos em paz.
c’est la fucking vie
é a caralha da vida. dicotomias, dilemas, crises e uma ser humana pasito a pasito conduzindo sua existência.
é assim pra todas nós. cada uma com suas batalhas internas e desafios externos. eu escolho todos os dias fazer por mim e por essa existência o máximo que posso para sentir prazer em estar viva. mesmo cansada. mesmo em crise.
que todo cansaço e toda crise venham para que possamos avançar um nível nessa espiral, amém.
antes de partir…
a partir do mês que vem, esse nosso espaço aqui no substack ganhará mais camadas. te conto na próxima news!
se você deseja entrar para o meu bonde de mentoradas e ser guiada num processo individual, personalizado + ter um ano de acesso aos meus cursos e à Comunidade Lidere Sua Vida, basta preencher o formulário presente nesta página
caso você não queira um processo de mentoria, mas deseja ser parte do bonde podendo participar de encontros quinzenais ao vivo + chat exclusivo no whatsapp + materiais complementares e outras supresas, saiba: o maior diferencial da nossa comunidade é que você terá espaço de verdade para troca! abrir o microfone e tirar suas dúvidas ou trazer suas percepções é permitido e encorajado. você não será mais uma. pra fazer parte, clique aqui.
A coragem de sustentar teu desconforto trouxe um texto tão lindo e tão sincero que me emocionou, talvez porque eu me veja um pouco em você e nos processos de confusão, cobranças e cansaço. Que os momentos de crise sejam aprendizados e expansão, amém ✨
Esse texto foi um abraço gigante e um incentivo maior do que sou capaz de colocar em palavras. Além de amar te ler por você escrever muitíssimo bem, é tão libertador perceber como não estamos sozinha nas nossas selvas mentais e loopings da vida. Pasito a pasito e vamos subindo essa espiral, amém. <3