Seu filme preferido revela os seus desejos.
Fique tranquila: esse não é um teste de personalidade.
Quando eu era criança, meus filmes preferidos eram Cinderela e O Rei Leão. O primeiro porque eu amava a magia que envolvia aquela princesa. A transformação das coisas em seres, a costura de um vestido feita por pequenos animais, a fada madrinha que traz a oportunidade, a coragem de Cinderela em acreditar em tudo aquilo e dizer “sim” pro desconhecido. Não era sobre o príncipe. Era sobre liberdade! Sobre ser bem maior do que era permitido que ela fosse. Era sobre fé.
O segundo me pegava na ousadia do pequeno futuro rei. A frase “eu rio na cara do perigo” era a minha preferida! Claro que é um filme (muito) triste para uma pequena criança de 4 anos assistir repetidas vezes, mas não tinha santo que me convencesse de não alugá-lo (anos 90 e as locadoras!). Mais uma vez, não era o romance entre Simba e Nala (eu nunca gostei da música tema dos dois), era a aventura que ele começava a viver com Timão e Pumba, a conexão com o espírito do pai e toda sua “jornada do herói” para fazer justiça.
É claro que hoje eu elaboro tudo isso com palavras adultas, mas me baseio na animação da minha pequena criança com cada cena.
Quando eu tinha uns 14 anos assisti pela primeira vez o filme que até hoje digo ser meu preferido: Moulin Rouge. Me lembro que estava na casa de uma amiga numa daquelas tardes depois da escola e esse era o filme escolhido do dia. Eu fiquei completamente apaixonada! O universo musical, os figurinos da Satine (a protagonista interpretada por Nicole Kidman), Paris, a Belle Époque e o irremediavelmente romântico Christian (o protagonista interpretado pro Ewan McGregor)! Tudo parecia descrever o meu universo interno!
Eu amava Satine. Eu queria ser como ela. Tínhamos muito em comum: eu também queria ser uma grande atriz! (E sim, eu ignorava completamente o fato de que ela é uma prostituta). Mas a verdade é que eu era igualzinha ao Christian: ingenuamente romântica. Freedom, beauty, truth and love. O lema dos boêmios era (e ainda é, verdade seja dita) o lema da minha vida. Liberdade, beleza, verdade e amor.
Agora preciso dizer que se você não gosta de spoilers, talvez queira assistir o filme antes de continuar.
Satine morre no final. E me dói todas as vezes que assisto. Bem quando ela e Christian finalmente ficariam juntos, a tuberculose chega a seu ápice no pequeno corpo da Sparkling Diamond (ou Diamante Brilhante, como é chamada pelo público). É dilacerante.
Mas aqui começa um padrão na minha vida: em todos os meus filmes preferidos as protagonistas morrem no final.
Moulin Rouge, Um dia e Vivre Sa Vie. A trilogia que representou a minha existência até um insight que tive esses dias mesmo.
Comecei a me perguntar por que eu amava tanto me apaixonar pela protagonista e perdê-la no fim. Justo quando ela estava vivendo o que queria viver. E hoje, aos 32 anos, vendo de fora a mulher dos 20 e poucos ou tantos que fui, percebo que era porque eu não queria que a minha vida fosse fadada à mesmice, ao cotidiano, à rotina. E se tudo desse realmente certo na vida delas? Elas deixavam de ser musas inspiradoras e passavam a ser mulheres normais com vidas e problemas normais. Eu não queria isso. Eu tinha pavor disso.
Na minha cabeça de 20 poucos-tantos anos, a morte era o único fim possível para que a vida não se tornasse menos do que extraordinária.
Eu sempre busquei o extraordinário! O grande feito, a grande virada, o grande evento. Tudo imenso, grandioso, nível Oscar!
Depois de uma sessão de terapia dias depois de eu completar 32 anos (não faz nem um mês, você está diante de um furo de reportagem, uma exclusiva!), eu percebi que essa minha versão de 32 se apresentava com um novo e estranho desejo. Eu enchi meus pulmões de coragem e disse em voz alta para minha analista: “eu sempre busquei liberdade. E hoje eu entendo que tudo que eu quero é segurança.”
Meu Deus! Como foi estranho falar isso em voz alta. Como foi estranho me ver com esse desejo. Como foi desconfortável assumi-lo. Eu até chorei. E eu detesto chorar na terapia.
Óbvio que quero continuar sendo livre, mas eu acreditava que liberdade era não saber pra onde ou quando ir e simplesmente ir quando desse vontade. Era poder ir pra bem longe, explorar o mundo, morar fora… Era ter uma vida imprevisível e extraordinária.
Mas hoje tudo o que eu mais desejo é uma vida absolutamente previsível. Eu desejo morar num lugar tranquilo e silencioso e continuar com meu relacionamento tranquilo. Eu desejo ser mãe e poder criar meu filho de maneira leve e simples. Eu desejo continuar com meu trabalho de guiança para mulheres, mas não quero mais a urgência dos lançamentos e dos gatilhos. Eu quero guiá-las com tempo e espaço.
Eu quero liberdade e segurança. Quero ter pra onde e quem voltar. Quero a previsibilidade de uma rotina que me contempla.
E sem hipocrisia: quero viver isso no conforto absoluto de uma bela casa com uma banheira belíssima pra eu relaxar esse corpo precioso.
Quando me toquei de tudo isso, pensei: “quais seriam agora os filmes preferidos da Ynara pós-retorno-de-saturno?”. E na mesma hora me veio à mente a belíssima trilogia do antes: “Antes do Amanhecer”, “Antes do Por-do-sol” e “Antes da Meia-Noite” protagonizadas ao longo de 8 anos por Julie Delpy e Ethan Hawke (finalmente disponível na Amazon Prime). Simplesmente a história de um casal ao longo dos anos. Uma história de gente de verdade com problemas e questões de verdade e simplesmente existindo - que já é coisa pra caramba.
Hoje, aos 32 anos, eu quero existir sem pressa. Quero escrever mais, perceber mais as estações passarem, ouvir mais as pessoas e a mim mesma. Como cantou Elis Regina:
“Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais”
E você? Onde está o seu desejo?
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p*ta merda, Yna. eu amo gente que escreve com corpo e alma (tu, e eu tbm hahahah maaaasssss eu preciso da poeira baixar pra construir/organizar novas formas e contornos do meu trabalho - e existência pq agora estou vivendo um luto que precisava viver, e me dando um tempo para processar... por ora, siga escrevendo, inspirando e trazendo novos furos para nos preencher <3
Que preciosidade de furo de reportagem!