se a morte não é uma dúvida, por que temos tanto medo de arriscar? o que tememos tanto perder? de onde vem esse cuidado excessivo com a vida?
nem te dei bom dia e já te entreguei uma crise existencial.
antes das oito da manhã.
desculpe, mas esse é meu estilo de vida. na minha família, um simples almoço se torna uma grande viagem que começa nas mitocôndrias e termina tentando entender qual dos filhos da Fernanda Lima é o mais bonito (depois de alguns minutos, chegamos à conclusão de que é o marido mesmo).
ano passado, fui para Buenos Aires com a
e numa certa manhã, antes mesmo de levantarmos da cama já estávamos em um papo profundíssimo, elaborando teses e discutindo possibilidades. quando nos tocamos do que estava acontecendo naquele quarto de airbnb, rimos. mas você pensa que acabou? nananina. foram 10 dias de falatório ininterrupto das 8h às 23h.e é claro que eu, sendo desse jeitinho, escolhi para me relacionar um homem que quando fala, todo mundo para pra ouvir porque é um grande acontecimento. ele tem o tempo dele, fala calma e pausadamente, observa, escuta e, só traz sua opinião quando sente que vai realmente agregar alguma coisa. principalmente quando estamos com a minha família, onde para ser ouvido, você precisa se impor. eu costumo acrescentar uma batida de palma forte e o pedido: “me deixem terminaaaaaaaar!”. todos riem, mas realmente ficam em silêncio. por alguns segundos.
eu aprendi a falar alto, gesticular muito e me expressar com intensidade para ser ouvida no meio desse furacão. questão de sobrevivência, amigos! ao contrário do meu amor que fica tranquilão em abrir mão de emitir sua opinião, essa nunca foi, para mim, uma opção. é totalmente contra a minha natureza. então, faço o que preciso para não me trair.
mas nem sempre foi assim…
andar na linha, fazer tudo certo e ser recompensada.
ao deixar o espaço seguro que eu tinha na minha cidade natal e me deparar com o mundo, ficou um pouco mais difícil não me trair. minhas escolhas me colocaram atada num tronco de madeira bem em cima de uma imensa fogueira. qualquer movimento espontâneo, qualquer palavra dita em hora errada ou qualquer opinião destoante era motivo para que levantassem à minha frente uma grande tocha e quase em tom de confidência, me dissessem: “continue assim e a fogueira acende”.
as ameaças eram bem maiores e, aos poucos, eu fui acreditando que seria melhor ficar bem quietinha para não me queimar.
só precisava aguentar e sorrir mais um pouquinho, só mais um teste, só mais um dia, aguenta, falta pouco… não deu. a tocha tocou a madeira enquanto eu arrebentava três das quatro cordas que me seguravam no tronco.
a força que senti foi tanta que não percebi dois pequenos detalhes: a quarta corda ainda ali, presa no meu tornozelo direito e a pequena chama que começava a crescer sob meus pés.
até que há uns dois anos, me deparei com um conteúdo da Duda Rodrigues onde ela dizia a seguinte frase:
“prefira ser julgada do que se trair”.
foi naquela hora que senti a corda apertar no meu tornozelo direito. olhei pra trás e vi, grudado nas minhas costas, o tronco do qual eu tinha certeza que tinha me livrado. olhei pra baixo e vi o fogo cada vez mais próximo.
“eu ainda estou aqui”, pensei.
me abaixei rapidamente para desatar a corda do meu tornozelo direito, mas ela era grossa demais para minhas unhas e dentes e eu não tinha nenhuma ferramenta. o jeito era me dar um tempo para afiar garras e presas.
é o que venho fazendo desde então.
semana passada, durante minha sessão de análise, percebi que consegui cortar uma das últimas fibras dessa corda. estou por um fio. o gosto da liberdade já é sentido novamente em minha boca e o coração já começa a bater em outro ritmo.
afio unhas e dentes todos os dias. e não penso em parar mesmo quando o último fio for cortado. eu conheço a vida, posso facilmente me prender novamente se não estiver preparada. as armadilhas são muitas, você que me lê sabe disso.
mas a nossa missão é perceber que sempre foi possível escapar.
se cortaram suas presas e garras como fazem com leoas enjauladas, seu trabalho é permitir que elas cresçam novamente. disfarce, se for preciso. finja obedecer enquanto planeja sua fuga. seja inteligente, astuta, ligeira.
se você mesma roe suas garras e desgasta suas presas rangendo dentes enquanto dorme no que popular e curiosamente chamamos de bruxismo, proteja-se de si. esfregue os dedos na pimenta mais forte e bote na boca um pano daqueles que as mulheres mordem enquanto parem suas crias.
ouça-me bem: nada, absolutamente nada, pode tirar de você o poder de desatar os nós que te prendem ao que você deseja se libertar.
e não tenha medo de quem, em tom de ameaça, sacode a tocha ardente aos seus pés na tentativa de te assustar.
se ser você é o que faz a fogueira arder, deixe-se queimar.
você que me lê e que deseja algum dia ser minha mentorada ou participar de um evento presencial, saiba que cada vez mais essa será a energia dos nossos trabalhos. eu quero vocês rindo da cara do perigo enquanto calmamente afiam garras e presas. atentas, fortes e debochadas.
por falar nisso, hoje é o último dia para garantir sua vaga na Residência Criativa da Praia dos Carneiros, em Pernambuco. se você é das que amam fitas de alta periculosidade e só conseguem se decidir na última hora, clique aqui, veja tudo o que está incluso, preencha o formulário e hoje mesmo a gente entra em contato com você, tá bem?
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curadoria da semana
🎧essa música da Alicia Keys tem tudo a ver com a news de hoje
🎬eu e Lucas maratonamos o reality show Million Dollar Secret da Netflix e é muuuuito bom. tô chateada que só tem uma temporada, quero mais!
📚essa edição da
faz a gente finalmente soltar o ar que tá prendendo há tanto tempo
Eu estava precisando ler isso!!🥹
Yna, seu bom dia não chegou aqui como crise existencial, mas como faísca que ilumina e encoraja 🔥 “se você mesma roe suas garras e desgasta suas presas rangendo dentes enquanto dorme no que popular e curiosamente chamamos de bruxismo, proteja-se de si.” - tocou fundo aqui!