🎧para ler ouvindo “right to be wrong”, da Joss Stone
eu estava na academia, naquele aparelho de fazer tríceps ou bíceps ou glúteos, sabe? aquele que você engancha um triângulo ou uma corda ou uma caneleira… enfim. eu estava lá descansando entre uma série de tríceps e outra e de repente, no meu fone de ouvido a voz da Joss Stone surge cantando pelo direito de estar errada. eu amo essa música desde os anos 00 quando assistia o clipe no Disk Mtv, então comecei a cantar sem voz (sabe? quando você só mexe os lábios com toda emoção, mas sem som para não incomodar os vizinhos?) e a “dançar” no lugar, coisa que comecei a fazer depois dos 30 porque não me importo mais se estão me achando maluca ou qualquer outra coisa como me importava antes.
de repente, parei e percebi meus olhos enchendo de água. foi bem nessa parte da música:
I've got a right to be wrong
I've been held down too long
I've got to break free
So I can finally breath
I've got a right to be wrong
Got to sing my own song
I might be singing out of key
But it sure feels good to me
se você não fala inglês, nesse trecho ela diz que tem o direito de estar errada, que já a seguraram por muito tempo e agora ela tem que se libertar para finalmente poder respirar. ela também diz que tem que cantar as próprias canções, que pode até estar cantando fora do tom, mas com certeza faz bem pra ela (agora eu te aconselho a ouvi-la cantando e sentir a emoção e a força que ela coloca em cada palavra. é de arrepiar).
eu me emocionei aliviada. eu queria cantar de verdade, não só com os lábios. eu queria cantar alto e dançar de olhos fechados esse hino. eu senti cada palavra com a minha alma e entendi o significado de um lugar que pequena Ynara de 20 anos atrás jamais entenderia. errar, para ela, não era gostoso. era motivo de vergonha e muito choro.
e é essa conversa que eu desejo ter hoje com você.
para viver uma vida criativa, devemos perder o medo de estarmos errados. é o que diz Joe, o autor da frase da imagem acima que segundo o wikipédia prefere ser chamado assim, com quem eu concordo totalmente (pelo menos nessa frase, já que é a primeira coisa que leio dele).
nós não temos medo de errar. nós temos vergonha. já parou pra pensar obre isso? por isso gosto dessa frase do Joe. não é errar o problema, é estar errada. é encarar as pessoas que torceram por você com sensação de que estão completamente decepcionadas e encarar as que não torceram e ter que abaixar a cabeça e aceitar a “derrota”. é remoer o gosto amargo de ter falhado na frente de “todo mundo”.
errar nos bastidores não dói tanto. ninguém está vendo! tipo quando você derruba algo numa loja, mas ninguém viu e você coloca rapidamente no lugar olhando em volta pra ter certeza de que seu segredo está salvo. esse é o principal sinal de que você realmente não tem medo de errar, você tem vergonha.
não se culpe. provavelmente você estudou numa escola onde os erros eram sinalizados em vermelho e circulados ou grifados para enfatizar o seu fracasso. talvez você tenha ficado de castigo na frente da sala inteira ou teve os bilhetes que você cuidadosamente trocou com a sua melhor amiga durante a aula falando sobre seus crushs lidos em voz alta pelo professor de literatura. sim, essa última é baseada em um fato. aquela sensação terrível de exposição marcou como cicatriz. e até hoje você evita qualquer situação que possa te colocar em evidência porque se o erro acontecer, a humilhação será inevitável. certo?
e aí eu te pergunto: como está sendo viver se escondendo da vida? como está sendo ver as possibilidades surgirem, as vontades despertarem desejos ocultos e ter que fazer um esforço gigantesco para permanecer onde você está? porque eu sei que não é nada confortável deixar de viver por conta do medo. de conforto essa zona não deveria ter nem o nome!
e te pergunto outra coisa: por que você está com vergonha de pessoas que nem se importam com você? pois é, eu sei porque eu já senti isso. quando eu comecei no digital, eu não tinha vergonha de quem me amava, eu tinha vergonha de quem me conhecia superficialmente do restaurante, do teatro, dos rolês. eu tinha vergonha dos meus colegas atores, não das minhas amigas próximas que acompanhavam meu processo de perto. eu tinha vergonha e medo de virar chacota nas rodas de fofoca. sendo que se eu estou virando chacota nas rodas de fofoca, as pessoas dessa roda não são as minhas pessoas. quem não te acolhe nos seus tropeços, não merece seguir a jornada com você.
a gente precisa fazer como a Joss e cantar em alto e bom som pelo direito de estar errada. por falar em cantar, sabia que eu amo karaokê e sempre me impedi de me divertir por me obrigar a acertar o tom? que eu já fingi que não queria cantar e fiquei só assistindo pelo mesmo motivo? e que as vezes que subi no palco exigi tanto de mim que a diversão se transformou em tortura?
percebe o que a vergonha de errar faz com a gente? ela mata a espontaneidade, a leveza, a autenticidade, a diversão, a presença. ela limita sua diversão, te afasta de momentos preciosos, te impede de aprender, de evoluir, de se tornar ainda mais você mesma. te transforma numa pessoa rígida consigo mesma e com os outros. ou vai dizer que você não é super crítica com o trabalho alheio? vai dizer que você não se pergunta como fulana teve coragem de postar aquilo? porque você mesma passou horas pensando se postava ou não um vídeo que gravou sobre seu trabalho e acabou desistindo com a justificativa de que “ainda precisa melhorar porque você é muito perfeccionista”. eu e você já sabemos que perfeccionismo é um nome bonitinho pra procrastinação, né? então tá bom.
vai errar, mulher! caiu, levanta. do chão não passa. vai ter sempre alguém pra rir de você? vai. então seja a primeira a fazer isso. eu aprendi com a RuPaul que quando você ri de você primeiro, você enfraquece qualquer crítica ou ofensa. porque você não teme suas rachaduras, mas as veste com orgulho.
a vida não é muito longa pra gente a vergonha roubar nosso tempo.
eu e Joss te autorizamos a cantar desafinado, dançar fora do ritmo, flopar uns conteúdos, cair da prancha, ralar a porta do carro, errar a dose da cachaça e mandar mensagem pra quem não devia, receber um pedido de reembolso do seu produto, perder um voo, pegar o ônibus na direção errada, mandar a mensagem privada no grupo da família e qualquer outro erro constrangedor que você pode imaginar. acontece com todo mundo. eu prometo. agora promete pra mim que você vai viver?
antes que eu me esqueça…
mês que vem começa a programação do meu novo podcast e eu não vejo a hora de compartilhar com vocês!
em agosto teremos a estreia de um projeto muito especial. tô desenvolvendo pensando em vocês e nas nossas trocas! por enquanto apenas salvem na agenda o dia 30/07
a mentoria está em pausa, mas se você deseja um material para te impulsionar a sair da “zona de conforto” e do ciclo sem fim da procrastinação, vem conhecer o Manual da Mulher Adulta.
você sabe que sua inscrição nessa news te dá direito a essa playlist de 8 aulas gratuitamente, né?
curadoria da semana:
atualmente estou lendo esse livro escrito pela Larinha, uma criadora de conteúdo que gosto muito. o livro é lindo demais, gente! super gostoso de ler, poético, real e simples.
a terceira temporada de Bridgerton está fantástica! também recomendo que você assista as entrevistas com o elenco, são ótimas!
comecei a ver essa entrevista da Anitta e, mais uma vez, tô amando! eu acho essa mulher foda, gente.
Ai que escrito gostoso de ler, principalmente porque tem tanto erro me esperando pela frente.. hahaha 🙈❤️
Que reflexão deliciosa! Eu amo a conexão que eu tenho com o “tempo certo” de ler os seus textos e de outras mulheres tão foda quanto. Estou para fazer a leitura desse texto há dias, já li outros que publicastes depois, mas esse foi ficando, e nessa semana todo conteúdo que consumo é sobre aceitar o erro, vivê-lo e aprender com ele, rir de si mesma. Sinto que o universo prepara minha mente para receber com carinho e realmente mudar algo aqui dentro. Seu trabalho é incrível 🤍