os benefícios de ser caótica
talvez o que te falte é um pouco de bagunça, sobreposições e cores chamativas
quando eu tinha 17 anos, eu comecei meus estudos como atriz. no começo, era só uma menina levemente tímida e com crises de ansiedade sempre que precisava fazer uma cena no improviso.
aos poucos, fui me sentindo parte daquele ambiente. um espaço onde a criatividade estava sempre presente. e, consequentemente, o caos. não digo na programação e na organização da escola, mas em nós, projetos de atores, sim. muito.
eu comecei a sentir a necessidade de vestir a minha bagunça como um manto e um manifesto. algo que dissesse por si só que eu era parte de um grupo de pessoas intensas, viscerais e nem um pouco preocupadas com o que os outros pensavam (essa última parte a gente sabe que não é verdade, mas faz parte da narrativa rebelde que eu cultivava na época).
pois bem. começava ali a minha fase Helena Bonham-Carter. eram camadas de roupas que não combinavam entre si e que fariam qualquer pessoa da moda ter um ataque cardíaco. fato engraçado: quando descrevi em detalhes os meus looks da época para uma amiga estilista, ela quase teve uma síncope só de imaginar. foi engraçadíssimo!
um dos looks que eu lembro de vestir e me sentir absolutamente LINDA era assim: uma legging marrom escura, uma saia midi de algodão cru e artesanal comprada numa feira maravilhosa em Natal-RN, uma blusa de mangas compridas branca e uma blusinha rosa e estampada com a Alice (no país das maravilhas) por cima. nos pés eu acho que eu vestia uma bota. mas poderia ser facilmente uma “sandalinha de Jesus”. ah! e claro: um cachecol amarrando o conceito.
eu gostaria muito de ter alguma foto pra ilustrar, mas em 2009 você bem sabe que dependíamos de alguém levar a câmera pra aula. eu tenho algumas no meu computador que está longe agora. mas eu prometo procurar e jogar no notes pra vocês.
eu comecei a pegar um gosto pelas sobreposições. vestidos com calças eram meus preferidos. estampas desconexas e muita cor. eu amava! eu me sentia linda, única, estilosa.
aí eu comecei a entrar no mundo dos testes e precisei aprender a me comportar. jeans, camiseta e uma maquiagem leve. o mais neutra possível.
não sei se já te contei, mas eu sempre fui muito obediente. irritantemente obediente. e influenciável num sentido muito específico: absorvia todas as críticas e conselhos como verdades absolutas e facilmente desistia de quem eu era e do que eu gostava por eles. te confesso que esse é um trabalho interno que eu sei que levarei pra vida. hoje eu domino bem essa tendência, mas ela ainda está aqui. recentemente eu fiz meu Desenho Humano e me descobri projetora. finalmente entendi porque era tão difícil me manter em mim.
mas voltando ao nosso assunto…
eu perdi o prazer de me divertir ao me expressar. eu era uma bagunça de sardas, camadas e cachos perambulando por SP? era. mas eu era uma força criativa nessa época! eu estava descobrindo que eu era, do que eu gostava, qual era meu estilo…
talvez eu descobrisse sozinha que eu preferia ser mais clássica e elegante. ou talvez eu fincasse minha bandeira no exagero caótico à la Bonham Carter. eu não sei. eu não me deixei saber.
e o que aconteceu quando eu não permiti que o caos se manifestasse em criatividade? ele encontrou outra casa: a minha saúde mental. e foi aí que o transtorno alimentar e a depressão surgiram.
o caos não é - nem nunca foi - o vilão da história.
no século XVIII, Johann Gottlieb Beckmann decidiu organizar as florestas. o motivo? jura que você não sabe? isso. o lucro. sabe quando você está na estrada e passa por aquelas plantações de eucalipto bem bonitinhas e alinhadas? então… culpa do Johann.
só que detalhe (porque uma boa fofoca sem essa expressão não tem como existir): essa técnica desenvolveu uma doença chamada Waldsterben, ou "síndrome da morte da floresta". o tiro saiu pela culatra e logo eles precisaram permitir que outras plantas crescessem no meio das fileiras de árvores para garantir a sobrevivência do ecossistema.
talvez hoje já tenham inventado agrotóxicos que “““protegem””” as árvores da morte, interferindo diretamente no movimento natural da vida.
e aqui está meu ponto.
a obsessão pela ordem te afasta do ritmo natural da vida.
em 2009, eu contive à força toda aquela bagunça que me conduzia a me entender. eu me envergonhei do meu caos. abandonei as cores e as camadas e aprendi a entrar no eixo.
mas aquela energia precisava de espaço. o caos antes libertador e criativo, se tornou uma fera enjaulada. e por conta da minha constante tentativa de ignorá-lo, ele deu o seu jeito de chamar minha atenção para me tirar de onde eu não pertencia.
ele não foi o vilão. ele foi um mensageiro que eu insisti em não ouvir. mas ele não podia desistir de mim, então fez o que pode.
o caos é mensageiro.
ele não é muito jeitoso ou delicado, verdade seja dita. mas tudo o que ele quer é que você se movimente. ele até poderia ser mais gentil, brincalhão e colorido como quando éramos crianças. mas nós, adultas, somos insuportavelmente teimosas.
a gente acredita que existe um jeito certo de viver. e pior: a gente se obriga a viver desse jeito. aí a energia criativa abaixa, a libido seca, o caos chega e ao invés de ouvirmos e irmos buscar o mal na raiz, o que fazemos?
planilhas, planners, calendários, métricas, datas…
e ao invés de sentir que a paz finalmente chegou na nossa vida, recebemos outra visita. bonitinha, mas ordinária. a Ansiedade.

a única saída é sentir o caos. dançar com ele. deixar que ele atravesse seu corpo e te conte o que precisa ser mudado, deixado, criado, chorado…
falando em bom português: já transou preocupada com a sua aparência? tentando ficar bonita o tempo todo? ou com medo de se sujar? ou com nojo de experimentar novas possibilidades? foi tão bom quanto aquele dia que você se entregou de corpo e alma para o caos e deixou seu corpo guiar todo o processo? foi aquele dia que você se olhou no espelho totalmente descabelada, com a maquiagem toda borrada na cara, suada e feliz. lembra daquela sensação?
não tema a sua bagunça. ela contém o mais precioso elixir da sua existência: a sua autenticidade. é ali que mora a força da sua criatividade, a sua capacidade de gerar vida e prazer para si e para os outros.
seja deliciosamente caótica
é assim - e somente assim - que você será capaz de nutrir uma relação forte e gostosa consigo mesma. é assim - e somente assim - que você olhará no espelho e se verá inteira.
eu penso onde aquela menina de 18 anos chegaria com suas camadas de tecidos diversos e coloridos…
eu hoje convoco sua ousadia para me guiar. escolho abrir espaços para que ela possa expressar o que eu não deixei lá atrás.
reverencio o deus Caos como meu mestre e guia. tiro todos os dias um tempo para dançar com ele, sentir sua presença e ouvir seus sábios e profundos conselhos.
todas as vezes que ele aparece com mais força, me deixando um tanto irritada e confusa, respiro em sua presença reforçando a confiança que tenho nele. solto! não sem surtar. mas ele sabe que faz parte e me acolhe. não como uma mãe amorosa, mas como um pai desafiador e brincalhão.
eu o amo. o caos me salva do tédio e da secura todos os dias.
eu desejo que você permita que ele te salve também.
antes da ordem, o caos
não adianta. você pode saber todos os métodos e ferramentas de organização, seguir uma agenda, um planner, usar o pomodoro, organizar seu armário por cor e sua mente por tarefas. a sensação de “falta alguma coisa” vai continuar existindo se você não aprender a ouvir o caos.
eu te faço um convite: venha participar da vivência que guiarei nos dias 5 e 6 de Outubro em Florianópolis.
você aprenderá a sentir no corpo os ensinamentos do caos e a lidar com eles de forma leve e segura, sabendo exatamente o que ele quer de você. e com coragem para se colocar no caminho.
através de práticas corpóreas, exercícios práticos para você sentir na pele o que digo e alguns outros detalhes que só saberão as 15 mulheres que participarem, você sairá de lá confiante de corpo, fala e objetivos. eu te garanto.
as inscrições vão até 23/09 ou até todas as vagas serem preenchidas.
vai ser um final de semana deliciosamente entregue!
antes que eu me esqueça…
já ouviu o último episódio do podcast? contei altas fofocas e trouxe um questionamento que vejo circulando por aí e tenho uma visão contrária:
curadoria caótica da semana:
a minissérie Treta disponível na Netflix é genial! uma bagunça e o retrato fiel de onde chegamos quando sufocamos sentimentos e instintos.
essa cena da série The Bear é o puro suco do caos! é uma obra-prima, mas foi bem difícil de assistir sem sentir o coração pulsar no pescoço e a respiração ofegar.
Relatos Selvagens é um dos meus filmes preferidos! uma bagunça tragicômica perfeita! eu amo!
se você tiver alguma outra indicação caótica, me conta nos comentários? bora fazer uma curadoria!
Gostei mt da forma como vc linkou as coisas! Ao te ler me lembrei do conto dos "sapatinhos vermelhos", que reli recentemente. É um dos meus preferidos do MQCL, justamente porque traz a importância de dançarmos, mas com os sapatinhos feitos à mão por nós mesmas.
nossa esse texto chegou bem em um final de semana que caos resume bem, passei dias com mil questões que extrapolaram o pensamento e resolvi reorganizar a casa inteira no meio de mil demandas do trabalho, semana de provas e um coração partido - escrevendo aqui até reparo que aproveitei que já estava armando o furacão pra entrar junto com esse movimento todo :)