de tempos em tempos, visito meus pais na minha cidade natal. estou aqui agora, enquanto te escrevo. sentada numa cadeira de praia verde, apoiando meu ipad num banco de madeira no quintal da casa que eles acabaram de terminar de construir não tem nem um mês. o céu está azulzinho com pequenas nuvens brancas, o famoso “céu do Mário Broz” que me fazia tanta falta nos meus anos de São Paulo.
estar aqui, nesta casa, tem sido uma experiência bem interessante. eu vi o terreno, o projeto, o pavimento, as paredes sendo erguidas pouco a pouco, acompanhei meus pais garimpando e restaurando com suas próprias mãos as portas e janelas e, de-repente-quase-dois-anos-depois aqui estou eu vendo tudo pronto e quase tudo já no lugar.
mas não farei a metáfora do tempo que demora para construirmos algo verdadeiramente sólido e blá-blá-blá. te contarei outra história…
cheguei aqui na semana que daria meu primeiro workshop em inglês da vida. a convite de uma mentorada que se tornou amiga, dia 28/06 às 8h eu apresentei e guiei 2 horas do workshop Express Your Value With Confidence (expresse seu valor com confiança) depois de ter tido um desarranjo intestinal a semana inteira de tanto nervoso.
meu medo? a língua. eu sabia que seria vista falhando no inglês. porque eu fui vista falhando nas reuniões que fizemos antes. eu sabia que, em algum momento, me faltaria uma palavra, eu conjugaria um verbo errado e todo mundo veria que eu sou fluente em inglês de boteco, não profissional. e falhando na língua, nada do que eu estivesse lá para dizer seria validado. esse era o meu looping de pensamento.
um dia antes, minha prima veio jantar aqui e eu comentei com ela sobre o que eu estava sentindo. ela me ouviu com atenção e me disse algo que vou resumir aqui: “você não está indo ensinar inglês. o que você vai ensinar, você domina. todo mundo sabe que você é brasileira, ter sotaque ou errar é natural, aquela não é sua língua e você não tem obrigação de domina-la. foca na mensagem e dê um jeito de passá-la”.
e então eu percebi que o que eu estava fazendo era focar na pontinha de esmalte lascado no canto da minha unha do indicador esquerdo. olhando num geral, minhas unhas estavam lindas, recém-feitas. mas aquela pequena lasquinha conseguia roubar toda a cena pra mim, me causando uma revolta e me dando uma vontade de tirar o esmalte de todos os dedos que não tinham nada com isso.
a casa recém-construída dos meus pais tem pequenas falhas imperceptíveis para quem não acompanhou o processo todo. um tijolo lascado lá em cima, quase perto do telhado altíssimo; um rodapé que está oco, uma mancha no piso de concreto polido. coisas que eu só sei que existem porque foram mostradas pra mim com ênfase e chateação.
aos meus olhos, essa é uma das casas mais lindas que já vi. cada um desses pequenos defeitos não afetam em nada sua estrutura e sua beleza. são pequenos e imperceptíveis detalhes que compõe um todo maravilhoso! a casa é aconchegante, autêntica, fresquinha, toda integrada, o que permite que a gente desfrute de momentos deliciosos em família e com um ar de casa no campo, rústica e elegante. meus pais tem um excelente gosto!
mas aos olhos de quem acompanhou todo o processo, se estressou, se cansou, se dedicou… qualquer defeito salta aos olhos porque com tanta dedicação, é quase inadmissível aceitar que um ou outro erro passou desapercebido ou simplesmente aconteceu.
como assim eu não pude evitar o tijolo de trincar? como assim eu não sei todas as palavras do vocabulário anglófono depois de tantos anos de estudo e consumo nessa língua?
como assim, depois de tanto esforço, eu fui capaz de errar?
mas a pergunta que eu me fiz e trago aqui para fazer morada em outras mentes perfeccionistas, inquietas e exigentes é: como que depois de errar tanto e perceber que todos esses erros te fizeram quem você é hoje, como que depois de entender a beleza e força de cada um deles na construção da sua trajetória, como que, ainda assim, você insiste em desejar que eles não existam? e como que tendo superado todos os que passaram você insiste em acreditar que não dará conta dos novos obstáculos?
por que é tão fácil que percamos a referência de quem somos todas as vezes que o medo vem fazer sua visita habitual?
pintei o cantinho lascado da minha unha com um esmalte de cor parecida, mas não igual, porque era o que tinha aqui em casa. meu pai cobriu algumas lasquinhas dos tijolos com um rejunte da mesma cor, mas textura diferente porque era a melhor solução. eu reparei as lascas do meu inglês com honestidade e vulnerabilidade, perguntando as palavras que eu não conseguia traduzir, pedindo um tempinho para formular melhor a frase e rindo de mim mesma.
assim como a casa dos meus pais é apreciada por cada pessoa que a conhece, meu workshop foi bastante elogiado pelos participantes e organizadores do evento. minhas unhas serão refeitas semana que vem e já estou empolgada para escolher uma nova cor. da mesma forma que não vejo a hora de ter uma próxima aventura em inglês e pensando até em voltar para o francês para abrir novas possibilidades.
enxergar o medo como um rito de passagem.
porque talvez o pote de ouro no fim do arco-íris seja simplesmente a ousadia de ir buscá-lo.
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dos dias 01 a 05 de Outubro deste ano vai acontecer na Praia dos Carneiros, em Pernambuco, a primeira Residência Criativa Desejante! teremos oficinas de escrita, de manualidades, corpórea, comida deliciosa para aguçar os sentidos, muita troca e momentos livres para desfrutarmos do paraíso que estaremos hospedadas.
restam apenas 6 vagas e o pacote inclui absolutamente tudo (exceto passagens aéreas): alimentação, hospedagem, transfer e materiais. vou deixar linkado nosso site com todas as informações detalhadas, vídeo da casa, valores e formas de pagamento.
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vai ser uma honra ter você nessa egrégora!
curadoria da semana
🎧no último episódio do podcast, falei sobre o peso de desejar grande. eu sinto que trará alívio para os corações desejantes
🎬Amores Covardes é um filme lindo e sensível que está disponível na Prime Video - pra quando você estiver precisando de um filme que abrace suas faltas
📚tenho muita alegria de contribuir com a news da
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Te ler é sempre como uma brisa de mar, acende alguma coisa no peito que a gnt nem sabe explicar ❤️🔥