o instagram é o boy lixo que eu tô tentando reciclar
e falhando miseravelmente, como você deve saber
bom, com esse título eu assumo com gosto que assisto Casamento às Cegas. e pra você que não assiste, explico. Karen é uma mulher que decidiu encarar o desafio de ficar com o Valmir mesmo com todas as mulheres do programa, todas as entidades espirituais, todas as células do corpo dela, todos os espectadores do mundo e quem sabe até o próprio Jesus Cristo dizerem que ele era um lixo.
eu preciso falar qual foi o resultado? não, mas eu vou. porque eles se casaram no final do programa e o casamento durou 2 semanas. “durante o período que ficamos juntos, me senti desrespeitada, invalidada. ele deixou muito claro que minha presença incomodava. com três dias morando juntos, ele sugeriu que eu saísse da casa dele e seguisse a vida separado”, contou Karen ao site Uol. minha reação sincera foi um sonoro: “AH VÁ! CÊ JURA POR DEUS?”.
e antes que você pare de ler por aqui achando que essa virou uma newsletter de fofoca de reality show de gosto duvidoso, calma. estamos chegando lá.
o instagram tem sido até agora minha principal plataforma de trabalho. eu sempre tive um bom engajamento por lá, acima da média até. e por “sempre”, eu preciso frisar que foi até 2023. nesse fatídico ano, eu viralizei um reels atingindo a marca de 4.2 milhões de visualizações e 30k seguidores a mais em poucos dias. naquele momento eu acreditei que minha sorte tinha mudado e que era chegada a tão sonhada hora de brilhar!
o que aconteceu na real foi que ganhei muitos seguidores que não faziam ideia do que era meu trabalho, um monte de página gigantesca republicou meu vídeo e outras tantas nem se deram ao trabalho de me marcar.
a partir daí, meu engajamento caiu consideravelmente e eu me vi levemente desesperada. comecei a repensar a maneira como estava criando, comprei curso, fiz pesquisas, testei formatos diferentes e… bom, nada funcionava.
em contrapartida, essa newsletter aqui e o meu podcast vem crescendo de forma orgânica e muito bonita. pessoas interessadas, atentas, curiosas. mulheres que se tornaram minhas mentoradas depois de lerem um texto meu ou ouvirem um episódio. são sempre pessoas numa mesma sintonia, é bonito de ver.
mas se você me perguntar para qual rede eu dedico mais tempo, energia, suor e lágrimas a resposta é imediata: o boy lixo de ícone rosinha pra dizer que é desconstruído e que não tem a masculinidade frágil.
ele só me tira. a paciência, a criatividade, a confiança. e mesmo assim, lá estou eu: “mas e se eu fizer um vídeo mais animado?”, “e se eu começar meus stories girando a câmera?”, “e se eu usar uma frase de impacto?”, “e se eu der uma pirueta enquanto bebo café, me maquio e falo de reality show ruim?”
o primeiro episódio da nova temporada de Black Mirror destruiu a minha vontade de viver por alguns minutos. não quero trazer spoilers, mas este homem é um retrato de onde podemos chegar quando aceitamos todos os “termos e condições” impostos e disfarçados de benefícios.
então o segredo é deletar o aplicativo? eu realmente não acho que é tão simples. o segredo é só largar o boy lixo desconstruído ou é entender o que te atrai tanto em quem não te valoriza pra que você rompa o ciclo de uma vez por todas?
o que me faz condicionar o meu sucesso profissional a números grandiosos de visualizações? porque o mais engraçado é que meu trabalho como mentora — de onde vem o dinheiro — continua indo muito bem.
eu não tenho mais energia para pensar em malabarismos que atraiam a atenção das pessoas. me sinto um boneco de posto. ou pior: me sinto a garota de 21 anos que eu fui um dia tentando de todas as formas ser valorizada pelo bosta do esquerdomacho de 31 e falhando miseravelmente.
a primeira vez que ele me viu, disse que eu era um sol. e em apenas um mês me transformou em cinzas.
agora vivo a mesma coisa com uma plataforma online. “comigo vai ser diferente, comigo ele vai mudar”. ai ai… chega a ser engraçado, né? um prato cheio pra minha analista.
o esquerdomacho31 seguiu dando o mesmo golpe por anos (descobri uma vítima em tempo real 6 anos depois). a plataforma é mais inteligente e inova seus meios, mas segue o mesmo destino: fazer com que a gente acredite que sem a aprovação dela, não somos nada.
perceba que eu falei “aprovação”. porque pra mim não é sobre estar ali ou não, é sobre o que se espera daquele espaço. e eu esperava o que um dia esperei do teatro: a catapulta que me alçará ao topo. e é aí que o prazer acaba.
o dia em que eu olhei a plateia do palco, contei quantas pessoas estavam ali, fiz as contas de quanto isso dava em reais, percebi que não pagaríamos nem metade do aluguel do teatro daquele dia e tive vontade de sair correndo, eu percebi que todo o prazer de estar em cena havia desaparecido. e foi ali que eu decidi parar.
e aqui estou eu no mesmo lugar. olhando a plateia do palco, fazendo as contas de quantas estão vendo meus conteúdos, percebendo que isso não condiz com a porcentagem de engajamento necessária para eu ser considerada uma boa criadora e tendo vontade de sair correndo. pra onde foi o prazer de criar?
ele ainda está aqui nesta newsletter e está também no podcast. ele está na mentoria e nas vivências presenciais que guio. mas por quanto tempo? te escrevo hoje sobre isso para romper um ciclo que eu não sei bem ao certo quando iniciou, mas que tomou de mim a minha artista.
“você tem uma leveza em cena! cuida dela, não perca isso!”, me disse Ana Thomaz, minha professora de corpo do primeiro semestre do Célia Helena (onde me formei como atriz). a leveza se foi no semestre seguinte.
hoje, 16 anos depois, peço praquela Ynara me relembrar como era se sentir tão livre. peço pra ela despertar do sono profundo e retomar o seu lugar na minha vida. eu quero voltar a sentir o que ela sentia. eu quero voltar a ser uma gaivota…
ele não acreditava no teatro, ria de meus sonhos, de modo que, aos poucos, eu também fui perdendo a crença e a coragem... depois, vieram as aflições do amor, os ciúmes, o eterno temor pelo bebê... tornei-me mesquinha, insignificante, representava sem convencer. (…) sou uma gaivota. não, não é isso... um dia – lembra? – você matou aquela gaivota. o acaso trouxe um homem que viu a gaivota e a destruiu por simples enfado, falta do que fazer... (…) agora sou outra pessoa. agora sou uma atriz de verdade, trabalho com prazer e paixão. no palco uma embriaguez se apodera de mim e me sinto bela. (…) e agora, Kostia, já sei e compreendo que, em nosso trabalho – tanto faz se atuamos no palco ou escrevemos -. o importante não é a glória, nem o brilho ou a realização dos sonhos, e sim saber sofrer. saber carregar a cruz e ter fé! eu tenho fé e não sinto tanta dor e, quando penso em minha profissão, já não temo a vida.
— fala da personagem Nina da peça A Gaivota, de Anton Tchekhov (meu dramaturgo preferido).
convoco todas as artistas, autônomas, empreendedoras
em 2022, minha primeira mentoria nasceu. tem sido uma jornada muito bonita e engrandecedora guiar mulheres a mostrarem quem são e expressarem suas criações com desejo e confiança.
mas é chegada a hora de pausar. não sei por quanto tempo. sei que existem outras coisas me chamando e precisando de mim para existirem. então eu vou.
restam ainda 2 vagas antes das luzes se apagarem. se você sente que precisa de um olhar estratégico e generoso para você e o seu trabalho, o seu lugar é aqui.
será uma grande honra pra mim te dar as mãos nessa construção. e pra que a gente comece com honestidade e olhos nos olhos, eu te convido a tomar um café online comigo. a gente se conhece e eu te conto em detalhes como funciona o processo. vamos?
é só clicar aqui e acessar a página belíssima para agendar.
curadoria da semana
🎧esses dias começou a tocar essa música no meu fone enquanto eu fazia adutor e me deu uma vontade gigantesca de sair dançando muito, daquele jeito estranho, nada sexy e extremamente libertador, sabe?
🎬amando o canal dessa maravilhosa aqui. é em inglês, mas dá pra colocar legenda. e vale a pena, viu? as reflexões dela são muito interessantes!
📚essa edição da Passageiro do
é um manifesto. eu me vi muito em alguns parágrafos e em outros, nem tanto. mas eu sei o quanto é assustador ao mesmo tempo que profundamente aliviante trazer nossa visão nua e crua sobre as coisas. eu achei f*da!
Yna, melhor definição do Instagram! É exatamente isso! Rir pra não chorar. Por lá eu me sinto tolhida, podada. Apesar de ainda ter algumas coisas interessantes, sei que lá não é um lugar que as pessoas estão muito a fim de conversas profundas. Meio que todo mundo que usa realmente aquela rede se acostumou com o fast e com a sensação de cérebro derretido. Então é realmente um esforço hercúleo querer que algo tão nosso tenha repercussão por lá, em terras superficiais. Tenho ouvido o meu desejo criativo, e na lista dos lugares que tenho vontade de explorar, o Instagram tá em último. É tentador saber que lá tem tanta gente, e bate uma FOMO não estar criando ativamente lá. Daí tenho pensado em algumas coisas: 1 fazer de lá um tipo de cartão de visita, sabe? Só pq as pessoas perguntam "qual seu instagram" em vez de pedir o telefone. Daí de vez em quando postar algo, sem esperar nada em troca, só pra bater o ponto e mostrar que tô viva e que tô criando em outro canto. E sabe, pode parecer revoltante, mas se usado de maneira estratégica, é o que cansa menos: patrocinar alguns posts. Quem sabe um post em vídeo ou texto falando sobre sua mentoria ou algo assim, pras pessoas conhecerem seu trabalho. Dá pra direcionar e nichar de uma forma que evita tanto estresse! Acho que vale a tentativa. E até hoje, o conteúdo do Tira do papel é o que mais me dá esperança de que é possível se manter autêntico naquela rede 🤭 gosto de me inspirar na forma equilibrada e estratégica que ele usa o Instagram.
Yna, mais um conflito teu que me pega também.
Essa coisa de começar algo cheia de vontade e crente no resultado final excelente é um ciclo que precisa ser quebrado por aqui.
Esse ideal de resultado é algo que acaba me paralisando ou diminuindo a libido dos meus desejos. Essa semana recomeço um projeto pessoal que é voltar a dar aulas de meditação e hoje me peguei pensando “Por quanto tempo serei capaz de fazer isso? Será que vou ter repertório suficiente para dar aulas por muitos anos? Será que vou conseguir fazer desse trabalho meu ganha pão?”
Lidar com o nosso ego não é fácil. Ele quer muito ser alguém, mas ao mesmo tempo morre de medo desse alguém não dar em nada e não ser tão grande quanto ele deseja.
O seu texto me fez lembrar o quanto a vida é cíclica e que o trabalho que escolhemos fazer não nos define. É só uma parte (importante, eu sei) da nossa existência aqui. É aquela velha frase já muito conhecida de todos “o importante é o percurso e não o resultado final”.
Seria tão mais fácil se fosse simples assim né?
Por aqui ainda não é. Estou nessa busca de reconhecer o grande resultado que é as pequenas coisas que faço no meu dia a dia. Querendo deixar a Jannini que sabe e reconhece tudo que é cíclico falar mais alto.