na segunda-feira passada às 18h eu entrei num ônibus na rodoviária de Araçatuba, em Imbituba-SC. 12h depois eu estaria chegando na rodoviária de Campinas-SP. mas 12h depois eu ainda estava em SC…
era a segunda vez que eu viajava de leito-cama e estava toda animada e tranquila porque teria uma boa noite de sono. tinha baixado 3 filmes para poder escolher qual assistir no caminho, colocado na bolsa um tupperware com 4 pedaços de torta que havia feito algumas horas antes e algumas daquelas bolachinhas que tem um nome muito fofo: beijinho de freira. também estava com a minha garrafa d’água cheia e com meu fone de ouvido a postos. em resumo: eu estava preparadíssima.
no final de semana antes da viagem, caiu uma chuva tremenda em SC. foram quase 2 dias inteirinhos chovendo sem parar. resultado: houve deslizamento de terra em um trecho da estrada que liga Imbituba a Florianópolis. exatamente o caminho que eu faria na segunda-feira.
Lucas pesquisou e me avisou que provavelmente teríamos que fazer um desvio. foi ele também quem insistiu comigo para irmos até a rodoviária confirmar se estava tudo certo. fomos e realmente: o desvio iria acontecer e por causa disso, eu teria que chegar 30 minutos mais cedo na rodoviária. “ufa! ainda bem que você insistiu!”, eu disse.
olhando no mapa, a gente acreditou que o desvio seria tranquilo, talvez eu atrasasse umas 5h para chegar em Campinas. era bastante, mas tava tranquilo: eu ia viajar de leito-cama.
remarquei a aula que daria terça de manhã e a mentoria que faria terça na parte da tarde. meu ipad estava carregado e se eu precisasse trabalhar, não seria um problema. estava tudo organizado e preparado para receber ele: o desvio de rota.
assim que o ônibus saiu da rodoviária de Araçatuba (é nome de cidade, mas é também um bairro de onde moro), Lucas me liga:
- viu, o desvio vai ser bem maior do que a gente imaginava. vocês vão descer até Porto Alegre…
- eiiita, sério? ainda bem que tô no leito-cama…
sim. eu estava obcecada. passava 80% do tempo falando que ia viajar de leito-cama e os outros 20% torcia para alguém me perguntar para eu poder falar mais*.
nesse momento, eu optei por não ver no celular o que isso significava em horas. eu escolhi deixar rolar! já estava indo mesmo, o que ia adiantar? eu até disse pra minha mãe: “eu tô super tranquila! o ônibus é confortável, eu tenho comida, água e meus filmes pra assistir! vou aproveitar para conhecer lugares que não conheço, ver paisagens bonitas e tirar um tempo de folga! vixe, vai ser ótimo!”.
você já ouviu falar no termo delulu?* eu mesminha nas primeiras horas de viagem. pleníssima, bem humorada, agradecendo à vida e a essa oportunidade que Mercúrio Retrógrado estava me trazendo para refletir.
sim, eu sou uma pessoa de astrológicas, mas não fico acompanhando todos os trânsitos e justamente por isso, marquei uma viagem em MR sem colocar uma atenção redobrada aos detalhes…
como você já soube no início deste texto, 12h eu ainda estava em SC. e ainda estava felizinha e otimista! algo bem delulu dentro de mim ainda acreditava que eu chegaria em Campinas por volta de 19h…
22h e eu ainda estava muito, mas muito longe de casa. já tinha assistido 2 filmes e começado o terceiro, mas não estava mais conseguindo engajar. eu não conseguia ler ou escrever porque ficava enjoada, não tinha mais fome e minha cabeça estava muito agitada para eu conseguir dormir. foi nesse momento que todo o trabalho otimista que eu havia feito começou a desmoronar.
me veio tristeza, arrependimento, dó dos meus pais que teriam que pegar estrada de madrugada para me buscar, enjoo com o cheiro do ônibus, irritação com a poltrona que até poucas horas antes era maravilhosa.
conversei com Lucas e foi isso que ele me disse:


foi nesse momento que falei comigo: “isso é cansaço, Ynara… e você tem todo direito de estar cansada, exausta… mas não entra nessa espiral de angústia, não! falta pouco!”. sentei em posição de lótus na cadeira, fechei os olhos e comecei a respirar profundamente enquanto chorava. me deixei chorar o quanto eu precisava. me acalmei, voltei a dormir. repeti mais uma vez essa sequência poucas horas depois…
cheguei em Campinas 4h da manhã de quarta-feira. assim que saí do ônibus e encontrei meu pai, caí no choro. ele me abraçou e me disse: “tá tudo bem! você já está em casa! tem café lá no carro!”.
entrei no carro, enxuguei as lágrimas, peguei um pouco de café e comecei a contar pra ele toda a saga com o humor e a leveza que iniciei a viagem.
enquanto estava no ônibus, comecei a me perguntar qual lição eu tiraria dessa viagem. o que aquela experiência estava me dizendo? aqui vão algumas conclusões que cheguei:
por mais que você se planeje e se prepare, você não tem controle sobre o curso da vida. ela flui como tem que fluir. mesmo assim, se planejar é maravilhoso porque te permite atravessar o descontrole com mais leveza tendo realmente a consciência de que o que estava ao seu alcance foi feito. ter comida, filmes, água, uma roupa confortável e os compromissos adiados fez minha viagem muito, mas muito mais leve*;
ter a sua volta pessoas que te amam, te ouvem e te acolhem é essencial para sua sanidade;
nenhuma das nóias da sua cabeça é real. sua mente vai criar os piores cenários, tentar te fazer duvidar das suas escolhas e te tirar do seu centro. quanto mais líder de si mesma você for, mais domínio você terá sobre si. e por consequência, você investirá seu tempo em se acolher e se tirar do que te puxa pra baixo, e não alimentar ainda mais aquela voz sabotadora;
levar um lencinho umedecido daqueles com álcool é uma excelente ideia quando você precisa usar muito banheiro público e não consegue se equilibrar para fazer xixi, principalmente em um ônibus em movimento;
não seja teimosa: se perceber que algo aconteceu e você talvez precise mudar a rota, pare, avalie as possibilidades e considere mudar os planos. eu escolhi não dar ouvidos aos sinais porque queria muito cumprir com o que tinha combinado;
não se aliene da realidade para não senti-la: esteja presente para que suas escolhas sejam conscientes e, principalmente, suas.
te escrevo de Limeira, da casa dos meus pais depois de passar alguns dias deliciosos com eles. ainda tenho alguns pela frente e hoje ter passado 35h dentro de um ônibus leito-cama virou história…
uma história que me fez sentir que meus limites são maiores do que imagino e me deixou orgulhosa de como me tratei, me acolhi e lidei comigo em meio ao caos. todo esse trabalhão de mergulhar na autoliderança e na autoinvestigação não está sendo em vão.
ah! e claro: eu nunca mais negligencio o poder de um mercúrio retrógrado…
sobre os *:
essa frase é uma fala adaptada do filme Meninas Malvadas
delulu é uma expressão da geração Z: “o termo vem de "delusional", ou seja, "delirante". na prática, isso significa possuir um estilo de vida em que a pessoa acredita plenamente que todo sonho e desejo dela vão se tornar realidade, por conta do otimismo e confiança no pensamento”, segundo uma matéria o site Terra
a Nan é a melhor pessoa que eu conheço para te ensinar sobre planejamento do CPF ao CNPJ (ser amiga dela é um privilégio por muitos motivos, aprender com ela é um deles)
antes que eu me esqueça…
as vagas para início em Maio da minha mentoria foram todas preenchidas. muito grata mesmo pela confiança de vocês! hoje fiquei super emocionada e dancei para comemorar! para quem deseja participar do processo, em junho terei novos horários! conheça todos os detalhes clicando aqui.
paras comadres-chiques que patrocinam esta news: semana passada não tivemos edição extra por conta do desvio, mas essa semana voltamos com a programação normal! (para conhecer os planos e o que você recebe quando entra para o círculo íntimo da Desejante, clique aqui)
você já acompanha meu vlog? se ainda não, vou deixar aqui embaixo o último episódio para você conhecer! se gostar, inscreva-se no canal porque toda quinta tem episódio novo!
Me lembrei de uma dessas jornadas de ônibus pelo Brasil que era pra ser longa e acabou virando uma jornada sem fim, com direito a pneus furados no plural e muita impaciência da minha parte — bonito mesmo de ver como esses grandes mergulhos na autoinvestigação aos poucos vão nos transformando na profundidade, mudando a forma como agimos e reagimos a tudo que chega imprevisível. Tenho me sentido mais acolhedora comigo também, me abraçando mais e me permitindo ainda mais. Senti algo tão gostoso ao te ler Yna ❤️