sento num bar com duas amigas e enquanto nos atualizamos do que cada uma está vivendo, por mais diferente que sejam nossos cotidianos, um sentimento nos une: o cansaço.
estamos todas sem tirar férias há um tempo, equilibrando trabalho e vida pessoal numa corda bamba, com a casa empoeirada e conflitos internos que surgem do nada como as roupas sujas de dentro do cesto.
confesso que já me peguei torcendo para minha analista me diagnosticar com alguma coisa que possa dar um nome simples e direto pro que ando sentindo. mas, não. não há diagnóstico algum a não ser a própria vida acontecendo.
minhas amigas tem suas questões particulares que não me cabe expor aqui, mas todas nós precisamos atravessar a tsunami emocional enquanto damos conta de fazer o que precisamos para manter as contas pagas e a b12 em dia.
por todas nós, eu incluo você que me lê. porque eu sei que também não está sendo fácil aí do outro lado. dentro de cada realidade, estamos tendo que lidar com uma mudança bizarra de mundo e a dúvida permanente de se o que estamos fazendo agora caberá nessa nova realidade.
mas apesar de todo o cansaço que sinto e de todas as dúvidas que me atravessam, existem algumas coisas que me mantém acreditando que a vida é uma dança exuberante entre o caos e a beleza.
sentar num bar gostosinho com as amigas que amo, chorar as pitangas, rir, fofocar, dividir batata frita, tentar resolver a vida uma da outra em segundos e não admitir que nenhuma delas se ache menos do que um grande 10 é das minhas preferidas.
as mulheres da minha vida sustentam a mulher que sou.
por muito tempo escolhi viver em silêncio o que me atravessava internamente. e como sempre fui muito boa em não incomodar, ninguém nunca desconfiava quando algo estava me apertando o peito — a não ser a minha mãe.
desde o meu retorno de saturno, venho me abrindo mais com as mulheres que chamo com orgulho de amigas. em meio a piadelas e emojis chorando de rir, conto as maiores dores e incertezas que passam por essa mente inquieta e caótica que chamo de minha.
nós, mulheres cansadas, precisamos umas das outras.
porque ninguém além de nós mesmas vai entender o riso na dor, o choro na celebração, a energia para treinar enquanto morre de sono, a vontade de sumir enquanto já está com data marcada para o próximo lançamento e o desejo repentino de morar 6 meses em um outro país enquanto se prepara para tentar engravidar.
essa incoerência poética de reclamar enquanto continuamos ativamente em busca do que nos enche a alma de prazer.
pra quem vê de fora, talvez não faça sentido nos ver chorando em um dia e cheias de vida no outro. mas não temos saída. temos um mundareú de coisas para resolver e conquistar, temos umas as outras para não deixar desistir, temos muita vida para viver, projetos e vidas para criar.
estamos cansadas, mas vivas. e enquanto assim estivermos, viveremos. com tudo o que a vida pede, seja pra atingir o fundo do poço ou o pico do Everest. porque nós sabemos que temos umas as outras para nos resgatar, se preciso.
na festa de aniversário das filhas de uma amiga de infância que não via há dois anos, eu dividia a minha insegurança de ter filhos longe da minha família, assim como ela teve. eu disse: “eu não sei se dou conta sozinha”. ela me olhou nos olhos e disse: “dá, amiga. eu dei! você dá”.
ali, sentada no chão do buffet brincando de lego com uma de suas filhas, eu olhei pra minha amiga e senti tanta admiração. e eu também me senti mais forte, mais capaz. como se eu tivesse tirado um véu de insegurança e me visto pelos olhos dela.
nós, mulheres cansadas, precisamos nos ver pelos olhos umas das outras e relembrar que temos e somos muito mais do que nossas inseguranças nos permitem enxergar.
eu desejo que você encontre outras mulheres onde possa se despir das exigências e de qualquer tipo de performance para finalmente descansar e relembrar a força que existe aí dentro.
isso é tudo o que nós, mulheres cansadas, realmente precisamos.
Mural do Desejo
acontece muito das pessoas que nos cercam não acompanharem nossas mudanças e por conta disso, acabamos nos sentindo completamente deslocadas. e eu sei que na vida adulta fica difícil fazer novas amizades. também por isso surgiu a Residência Criativa. a proposta de ficarmos juntas numa mesma casa, compartilhando nossos desejos e medos e vivenciando em conjunto as experiências propostas é uma forma de abrir espaços para que novos vínculos se formem. e para que você, mulher cansada que me lê, encontre seu lugar de descanso. restam apenas dois lugares nessa roda e as inscrições encerram em 15/09. todos os detalhes estarão aqui neste link. espero você! (qualquer dúvida, pode me enviar uma mensagem ou responder este e-mail).
curadoria da semana
🎧minha amiga May Terra lançou sua nova música, Belong. eu estou encantada! se você gosta de música folk e tem uma saudade não sabe do quê, vai amar
🎬eu poderia indicar um filme sobre amizade feminina, mas vou indicar Sinners para você ter assunto na próxima vez que encontrar as besties
📚esse texto da
me fez gritar “ai que texto bom!!!” no final (e eu passei a leitura toda prestando atenção na minha respiração)
"por muito tempo escolhi viver em silêncio o que me atravessava internamente [para] não incomodar"
essa frase e, em certa medida, todo o texto tem um pouco do slogan da segunda onda feminista dos EUA: "o pessoal é politico"
- muitas vezes pensamos que o que estamos vivendo é pessoal, mas quando a gente compartilha percebemos que todas estamos vivendo coisas parecidas, ou seja, o que causa isso é algo maior que nos mesmas. e que bom poder compartinhar, da um quentinho no peito :)
obrigada pelo texto, nos desejo animo para a semana. somos sim capazes!
Te ler e receber lembretes de que ainda que esteja tudo caótico, é a vida acontecendo e, mais do que isso, estamos juntas, nos fortalecendo na caminhada 🌹