acordo de manhã com uma preguiça danada de sair da cama. está frio, chove bem fininho lá fora e de dentro do meu quarto, a sensação é a de que o dia ainda não amanheceu. mas, se meu despertador tocou, significa que já são 7h30 e pelo tempo que passei enrolando na cama, já deve ter dado 8h.
levanto e sigo até o banheiro. abro a torneira para escovar os dentes e lavar o rosto, e assim que coloco as mãos na água, o arrependimento de ter vencido a preguiça chega. mas continuo, como mulher adulta que sou.
encho meu copo d’água e sigo pra varando munida daquele que é meu grande companheiro de trabalho e de vida: meu celular.
até aqui, me sinto bem. apesar do frio, a vista está linda, consigo ver as ondas agitadas do mar mesmo com a distância. estou em paz comigo, com meu trabalho, meu relacionamento e minhas escolhas.
então respiro fundo e decido conscientemente me infernizar.
fulana lançou um livro. ciclano bateu 100k de seguidores. beltrana casou numa festa lindíssima com um vestido impecável.
sinto meus ombros encolherem, minhas sobrancelhas franzirem, meus lábios enrijecerem. e ouço dentro da minha cabeça: “podia ser a gente, mas você não colabora…”
quem diz isso é a Paola Bracho que domina meus pensamentos. ela não gosta de mim. me acha fraca, desinteressante, cafona e me lembra quase todos os dias disso. segundo ela, eu poderia mais! eu poderia muito! mas eu não me movo pra isso. segundo ela, eu sou uma grande fracasso.
o mais interessante é que ela é bastante persuasiva e por muito anos eu a considerei minha consciência. acreditava que ela só queria o meu bem, meu sucesso. jurava que era por conta dela que eu estava onde estava.
mas agora o que me espanta é o som de outra voz que diz: “não podia ser a gente porque eu não sou essas pessoas. eu sou outra, eu tenho outra vida e eu gosto dela.”
meus ombros relaxam, meus olhos arregalam, minha boca abre e fico ali travada tentando reconhecer quem disse aquilo. silêncio. só ouço o som da minha respiração e do movimento do mar.
num estalo, percebo: fui eu.
eu gosto de manhãs lentas, finais de semana livres e tempo com as pessoas que amo. ser uma completa desconhecida que vive uma vida absurdamente normal me deixa genuinamente feliz.
sabe uma coisa que eu adoro? sair no meio da manhã dirigindo meu carro e passar no hortifruti, na padaria, na farmácia… voltar pra casa, fazer o almoço, almoçar e voltar a trabalhar. talvez seja uma coisa de criança, porque quando faço isso, lembro da minha mãe. e eu gosto de ver minha mãe em mim.
minha hora preferida do dia é quando eu e Lucas preparamos nosso lanche, deitamos embaixo das cobertas e escolhemos um filme para iniciar a noite. se estamos muito cansados, escolhemos alguma coisa mais bobinha. se estamos animados, rola um suspense psicológico que faz com que nossos mundos se encontrem.
todos os dias, eu sento em frente ao meu computador, crio e gravo conteúdos, estudo estratégias, atendo mentoradas, faço reuniões e dou aulas. mas eu tenho tempo entre uma coisa e outra, são raras as vezes que tudo se atropela e eu fico até mais tarde no escritório.
eu tenho uma boa vida, sabe? eu quis essa vida. eu ouvi que poderia e deveria querer mais, ser mais, buscar mais e, meu Deus, como eu me desgastei ao longo dos anos me achando um grande fracasso por não conseguir. mas quando eu olho em volta com as minhas próprias lentes, eu amo o que vejo.
quero lançar um livro, ser mãe, conhecer mais lugares do Brasil e do mundo e guiar a Residência Criativa por todos eles. quero ser grande no meu silêncio. quero fazer muito e ainda ter tempo. quero ser reconhecida e desconhecida, extraordinária e ridiculamente comum.
eu tenho tempo, tudo isso virá. daqui da minha varanda, enquanto calmamente silencio o que me inferniza, digo para mim mesma o que eu realmente preciso.
“saia do caminho. pare de se atrapalhar.”
Mural do Desejo
tem coisas que a gente não escolhe com a razão, a gente sente. estou em busca das 3 mulheres que fecharão a roda da Residência Criativa — um convite para se reconectar ao corpo, abrir espaço para a sua voz e voltar com coragem para se expressar. se você sente que pode ser você, mas ainda está em dúvida, no site tem um botão que leva direto pro meu whatsapp. me mande um “oi” por lá que vamos trocar uma ideia sem pressão (e sem IA), pra garantir que você está tomando a melhor decisão. tá bem? é só clicar aqui.
eu tive a honra de ser convidada pelo
para participar do encontro 27 do Clube Passageiro. vamos bater um papo sobre perder o medo de se vender! eu tô super feliz e animada! para saber como participar, acesse aqui.
curadoria da semana
🎧a Olivia Dean está lançando um novo álbum e já soltou algumas músicas que eu já tô levemente viciada
🎬confesso que não estou assistindo muita coisa porque a rotina aqui está caótica com a visita da família, então vou indicar um filme que assisti faz um tempão e amo de paixão. Dois Amigos, a primeira direção do divo Louis Garrel e com a musa Golshifteh Farahani como protagonista (aliás, acho que vale uma news contando a história dela que é incrível)
📚essa edição da
me fez viajar e ter uma aula de culinária na Tailândia tomando um porre enquanto tomava meu café da manhã
Sou extremamente apaixonada pelo ordinário <3
Ai, que texto lindo, Yna! <3
Sinto o mesmo: essa satisfação em uma vida sem mais essas ambições que vieram de fora, mas com as que satisfazem a nossa alma de verdade. Elas podem parecer pequenas ao olhos alheios, mas, na verdade, são gigantes, porque são genuinamente apreciadas.