a descoberta
quando meu sobrinho Athos tinha 5 anos, ele ficou muito chocado em descobrir uma coisa que para qualquer outra pessoa naquela sala era bem óbvio. ao me ver dar um selinho em seu tio e meu amor, ele perguntou assustado:
- você beijou ele?
- sim!
- por quê?
- porque ele é meu namorado.
- mas você é adulta????????
indignado. ele ficou simplesmente indignado ao descobrir que sua tia, esta mulher aqui que vos escreve, tinha 31 anos.
- TRINTA E UM???????
indignadíssimo. naquele dia eu descobri que para ele eu ainda era uma criança. um pouquinho mais velha que ele? sim. mas quem sabe da idade de sua irmã mais velha, Chloé, na época com 8 anos? ou talvez eu tivesse 11? mas 31? namorada do tio? muita informação…
lembro de achar aquilo engraçado, mas logo em seguida surgir uma leve preocupação. será que eu não pareço adulta? será que é por isso que as pessoas costumam me ensinar coisas óbvias? será que eu passo uma imagem de ingenuidade?
a pesquisa
uma vez (numa daquelas pesquisas que somos incentivadas a fazer na construção da nossa persona profissional) perguntei pra minha audiência do instagram qual era a impressão dela sobre mim. surgiram três palavras que me fizeram entrar numa profunda crise existencial.
meiga. fofa. doce.
fiquei puta. aí me lembrei que algumas amigas diziam que quando eu estava brava, parecia um daqueles cachorrinhos pequenos e irritados. ou a Docinho (o que eu até que gostava porque ela era minha preferida mesmo).
vira e mexe aparece na minha DM alguém para me explicar algo de forma levemente condescendente. e eu sempre penso: não é possível que essa pessoa realmente ache que eu não pensei nisso antes! não é possível que ela me ache tão amadora assim!
é claro que existe um nível altíssimo de exigência e, talvez, uma não tão leve pitada de prepotência nesse meu pensamento, mas eu te juro que a minha sensação é de enfraquecimento. costumo mandar os prints para uma amiga que sempre me ajuda a desatar nós internos e uma vez ela me disse: amiga, as pessoas estão confundindo as coisas. elas veem em você uma leveza e confundem com ingenuidade. elas veem essa energia ariana que você exala e acham que você começou ontem na vida.
lembrei do Athos. ao me ver rindo, correndo, sentando no chão, pulando na piscina, penteando boneca, balançando na rede e dançando coreografias do tiktok, a conta pro pequeno menino de 5 anos foi bem simples de resolver.
mas ao me ver criando conteúdos, mentorando outras mulheres, dando aulas, escrevendo, guiando vivências, dividindo a vida com um homem barbado, viajando com amigas, participando de eventos… o que ainda imprimi ingenuidade? o que ainda exala amadorismo? o que autoriza uma mensagem me ensinando o óbvio?
minha cara? será o fato de eu ter cabelos cacheados, sardas e olhos grandes e claros?
meu estilo? será o fato de eu não gostar de linhas retas, ternos e acessórios metálicos?
meu gênero? meu estado civil? meu estilo de vida? meu signo? meus olhos arregalados quando falo? minha empolgação? meu hábito de ser acessível e responder todo mundo?
por que diabos não me levam a sério?
a crise
essa situação me levou a uma tentativa de mudar meu estilo, meu tipo de conteúdo, meu jeito acessível. dividi meu cabelo ao meio, tirei umas fotos de camisa e acessórios metálicos, dei até algumas aulas assim. parei de responder todo mundo com tanta atenção, comecei a aparecer apenas quando estivesse maquiada, arrumada e com algo muito importante, sábio e técnico a dizer.
absolutamente nada mudou. a não ser a sensação de desconforto que eu ganhei quando me via no espelho daquele jeito. mas os comentários continuavam chegando e a desconfiança em relação ao meu trabalho também.
e muitas vezes a minha reação era digna da imagem que o pequeno Athos fazia de mim: sentar, chorar, reclamar e contar pra minha mãe minha amiga.
a revelação
a verdade é que quem endossou essa visão de que eu sou café-com-leite na vida foi - pasme - eu mesma. todas as pessoas que me mandam mensagens condescendentes, eu consigo contar nos dedos das minhas mãos. já as que gostam do meu trabalho ou já se transformaram através dele habitam uma pasta lotada de depoimentos.
quem escolheu olhar para o lado ruim de ser expressiva, quem decidiu que isso me atrapalhava nas vendas, nos meus projetos e nas minha ambições… sim, também fui eu.
no evento presencial que guiei mês passado, ouvi coisas profundamente bonitas e fortes das mulheres que aceitaram ser guiadas por mim. e depois de ouvir cada uma, chorando muito eu agradeci e rindo em meio às lágrimas eu disse: “vocês entenderam o conceito. se algum dia vocês duvidarem de que alguém vai entender o que vocês fazem, eu garanto que vocês vão encontrar quem entenda o conceito”.
eu sinto que para voltar pra mim, precisei visitar terras estrangeiras. me testar, me colocar em cheque, me vestir de outras, me ver por outros ângulos. até conseguir me olhar no espelho e dizer: “bem vinda de volta!”. eu não sinto mais vontade de mudar quem eu sou para parecer menos ou mais qualquer coisa.
se uma criança me vê como uma igual, me sinto honrada porque não existe nada mais verdadeiro, espontâneo e criativo do que a infância. se uma pessoa adulta duvida da minha capacidade pela minha aparência, meu gênero ou porque minha voz se parece com a da Sandy (já ouvi essa), só me resta sorrir e acenar enquanto a vejo se distanciar.
todas as vezes que o pensamento sabotador tenta me dar uma rasteira, eu tomo minha própria medicina e repito internamente: eu assumo os efeitos colaterais de ser quem sou.
é um trabalho diário, contínuo, assíduo e dos mais bonitos que podemos fazer pela nossa sanidade esse de pegar na nossa mão e nos lembrar de que não precisamos de cura para a autenticidade. é o que todo mundo busca, mas é também do que todo mundo foge. já percebeu?
ser você mesma é simples no discurso, mas é um puta trabalho na prática. porque não existimos sós no mundo. precisamos da visão do outro, mas precisamos também aprender a dosá-la. precisamos de confiança em quem somos, mas não em excesso para não ficarmos irredutíveis, arrogantes e rabugentas. é um trabalho minucioso, artesanal, exige o tempo que é o da vida, não o da mente.
compartilho com você esse pedaço tão íntimo de mim para que pare e pense: será que essa visão distorcida que você acha que as pessoas tem de você não vem de dentro pra fora? será que não é você com medo de abraçar com convicção sua autenticidade? será que você está passando a imagem errada simplesmente porque não se apropriou com vontade dela?
uma coisa eu te garanto: você vai encontrar quem entenda o conceito. e se você ainda duvida, lembra que eu te encontrei.
antes que eu me esqueça…
a vivência Desejante ainda não tem data ou local para sua próxima edição, mas eu já estou me movimentando para isso. é um processo imersivo, presencial onde trabalhamos a comunicação, o desejo e o posicionamento com estratégia e boas doses de sensibilidade, escuta corpórea e magia. se você deseja ser avisada com prioridade (o que eu recomendo porque são apenas 10 vagas), clique aqui para entrar na lista de espera.
contrariando todos os gurus do marketing, farei duas CTAs (chamadas pra ação) em uma newsletter. a Mentoria Comunicação Desejante (antiga Lidere Sua Vida) reabrirá suas portas em 2025. com foco em empreendedoras criativas que precisam de estratégia e coragem para parir e comunicar seus servires autorais, o processo é individual e personalizado. para agendar uma reunião comigo, me contar sobre o seu momento e conhecer o processo, clique aqui.
e só pra contrariar mais um pouquinho porque soy rebelde: ainda em 2025 acontecerá a terceira edição da Amazen Liderança Feminina, vivência que eu tenho a honra de co-guiar ao lado de 4 líderes ribeirinhas maravilhosas em plena floresta Amazônica. a lista de espera já está rolando e você pode pedir informações mandando uma DM aqui.
curadoria da semana:
🎧eu simplesmente amo as reflexões da Maria Flor e do Emanuel Aragão há anos e agora eles finalmente tem um podcast. o primeiro episódio teve 3 assuntos em 1 e o último realmente me pegou de jeito.
🎬para conhecer um pouco mais a Amazen, vem assistir esse vlog que eu fiz assim que cheguei da edição que rolou esse ano.
📚se você é do tipo que ama previsões, minha amiga
tem uma newsletter onde ela envia previsões semanais de acordo com o Tzolkin. sob a ótica do empreendedorismo criativo, ela nos conta como as energias da semana podem favorecer ou não nosso servir.
Me identifiquei com o seu relato, Yna. Obrigada por compartilhar a sua vivencia, sem dúvida me inspira a continuar caminhando, sem deixar de ser do meu jeitinho.
Bateu em um lugarzinho aqui, meio que marejei os olhos durante a leitura. Fez todo o sentido. Obrigada por compartilhar. ♥️