encaro a folha em branco por uns segundos, o mar por outros tantos. pego o celular e num piscar de olhos estou no instagram da Céline Dion lendo suas postagens… “o que eu tô fazendo aqui?” é o pensamento que me faz colocar o celular de lado e voltar pra cá.
minha cabeça dói um pouquinho. resultado de uma noite de tensionando os ombros e o maxilar. eu sei bem o motivo. ou os motivos.
o primeiro é que mesmo depois de diversos sinais que me corpo já me deu, eu decidi fazer algo que não me faz bem: um lançamento.
pois é, cara leitora. você provavelmente acompanhou essa saga por aqui, lembra? eu te convidei pra uma aula aberta e depois para uma imersão.
o que você não sabe é que três dias antes de entregar a aula, minha garganta estava doendo sem nenhum sinal de inflamação. dois dias antes, eu estava à flor da pele: triste e irritada sem motivo aparente já que minha menstruação havia chegado ao fim.
entreguei a aula de maior sucesso da minha jornada até agora. e prometi para mim mesma que não farei mais isso comigo.
não é sobre o resultado, é sobre como eu me sinto no processo. e eu definitivamente me sinto péssima. disse pro Lucas que estava me sentindo de ressaca quando a aula acabou. e a ressaca é aquela sensação horrível que mistura enjoo com arrependimento porque você se lembra que estava saudável um dia antes e voluntariamente intoxicou seu corpo por nenhuma razão aparente. “eu nunca mais vou beber”. mentira, nós sabemos. assim como eu menti pra mim no final do ano passado quando disse que não faria mais lançamentos.
em relação ao álcool, faz muito tempo que não sei o que é uma ressaca. porque realmente cumpri esse acordo comigo. eu amo vinho, mas não quero passar o dia seguinte de cama por causa desse amor. então encontrei uma maneira saudável e deliciosa de manter essa relação.
eu amo entregar conteúdo e a maneira como encontrei de vender meu servir de forma leve e orgânica. eu detesto a pressão de um lançamento. não gosto de ser pressionada e não gosto de pressionar. é um formato de venda ótimo e super eficaz, mas não é o meu. eu fico fisicamente e emocionalmente mal.
“então por que insistir”, você me pergunta.
porque a hora do “basta!” ainda não tinha chegado e eu sou o tipo de pessoa que espreme até a última gota para ter certeza de que não quero algo. te dou um exemplo: eu detesto arroz doce. a textura me dá arrepios, meu corpo simplesmente rejeita um arroz mergulhado num creme adocicado. ele não entende! mesmo assim, eu provo todos os novos que cruzam o meu caminho por que vai que dessa vez eu goste. detesto todas.
eu gosto disso em mim. eu gosto de ser alguém que não se fecha para as possibilidades. o que eu não gosto é da minha demora em aceitar que algumas coisas, gostos, texturas e experiências simplesmente não são para mim.
se levar ao ápice do esgotamento é desrespeitar seus próprios limites. quando nem você respeita suas fronteiras, como pode confiar que dá conta de cuidar de si mesma?
eu criei um ritmo de trabalho saudável, rentável, sustentável e, bem, não acredito que tenha palavra melhor para definir: feminino. há espaço para a minha criatividade, para minha ânsia de fazer coisas diferentes, para minhas pausas matinais de leitura e contemplação… por que mudar isso? para quê?
eu sei o motivo. e sinto que precisei me levar mais uma vez ao limite para cortar a última raiz que faltava dessa toxina. aprender pelo amor é o ideal, mas às vezes só uma boa caminhada pelo vale das sombras nos tira definitivamente do que nos destrói.
o outro motivo foi que algo que eu queria muito que acontecesse dois meses atrás acabou de acontecer. uma casa linda do jeito que eu sempre quis está finalmente disponível para o aluguel.
dois meses atrás eu fique muito triste com o “ainda não” da proprietária porque tínhamos que sair da casa onde estávamos e não poderíamos esperar a decisão dela.
achamos, então, a casa onde moramos hoje e esquecemos a outra. até que dois dias atrás ela nos manda uma mensagem dizendo que vai finalmente alugar a casa e somos prioridade.
acontece que o momento passou. estamos bem na nova casa, temos uma vista linda pro mar, tudo já está acomodado e as possibilidades de deixá-la ainda mais com a nossa cara estão abertas, já que o proprietário é super legal.
meu coração apertou.
a casa dela simboliza tudo o que eu quero para mim. é casa com cara de casa, sabe? os móveis são de madeira de demolição, o fogão é lindo e amarelo, a varanda é ampla… eu me imagino assando bolo num final de tarde, tomando um café enquanto leio e contemplo o jardim. ah! no quintal tem uma cachoeira que atravessa o terreno, acredita? é o lugar perfeito! dos sonhos!
mas não é meu.
é como se eu quisesse acelerar o que desejo viver ensaiando no palco alheio, sabe?
eu falo pro Lucas que quero me sentir em casa. escolher meus móveis, louças, decoração. esse negócio de morar em casa mobiliada ajuda muito na mudança, mas não me sinto realmente na minha casa.
eu estava pensando que lá eu me sentiria. porque o gosto dela é bem parecido com o meu e tudo o que ela escolheu para compor a casa dela, eu provavelmente escolheria (exceto pelas cores das paredes que são fortes porque lá costumava ser uma escolinha Waldorf - sim, fica cada vez mais perfeito esse lugar). mas ainda assim, não seria a minha casa. e eu teria que sair depois de um ano porque ela voltará de seu sabático e vai querer sua bela e aconchegante casa de volta.
perguntei pro tarot o que ele achava e ele me disse que eu sofreria ali, de alguma forma. e eu acho que sofreria porque estaria escolhendo me iludir.
eu quero a minha casa do meu jeito, quero ser mãe de gente e de bicho, quero assar bolos no final da tarde e receber minha família para uma temporada gostosa e aconchegante. o tarot me disse que eu terei tudo isso. mas não agora. e tentar cortar caminho não me trará o que desejo mais rápido, mas com certeza me trará frustração.
então depois de escrever esse texto pra você, enviarei um áudio para a proprietária da casa dizendo que não ficaremos com ela.
abrir mão do que parece perfeito hoje para esperar que o que você deseja aconteça em seu próprio tempo não é gostoso, num primeiro momento. mas na vida adulta, não dá pra ir com muita sede ao pote. é preciso ler as entrelinhas e entender o verdadeiro preço de cada escolha.
apesar de doer um tiquinho abrir mão dessa casa, tô com uma sensação de alívio e confiança fortíssima. sei que nós fizemos a escolha certa para a construção do nosso caminho.
é como dizem os Rolling Stones, “você não pode ter sempre o que você quer, mas se tentar algumas vezes, você pode descobrir que consegue o que precisa”.
esse negócio de confiar na vida e ouvir a guiança da minha alma tem me levado a lugares improváveis e surpreendentes. ainda bem!
curadoria da semana:
essa newsletter foi escrita ao som de Laufey que eu descobri “sem querer”no youtube e agradeço todos os dias por isso
adorei o exercício que o
propôs nessa edição! bora fazer?eu adoro o formato dos vídeos dessa criadora! me trazem paz…
nunca li um tempo que me acalantou tanto! obrigada pelas suas palavras 🥹🤍
O quanto me identifico com essas news não está escrito 🤍 agradeço ao universo por você existir e ter seguido esse caminho!