“Onde é que há gente? Onde é que há gente no mundo?” é o que pergunta Fernando Pessoa nas linhas finais de seu Poema Em Linha Reta. E é também o que eu me pergunto enquanto passeio por conteúdos e comentários espalhados pelas redes sociais.
E eu não vou focar na pessoa que posta um pequeno recorte de sua vida em poucos segundos de um vídeo gravado na vertical porque faz parte de seu trabalho. Eu estou falando sobre os vigilantes dos pequenos erros alheios.
Aquelas pessoas que ficam à espreita em suas tocas só esperando o primeiro deslize de quem está na arena para despejar seus tomates apodrecidos e seus ais-uis moralistas de quem nunca cometeu um único erro em toda sua vida.
Esse comportamento doentio tem nos afastado da nossa principal característica: a de ser HUMANO. E tem nos aproximado de uma busca implacável pela perfeição seguido um medo danado de nos colocarmos na arena da vida (como diria Brené Brown).
Pessoas, prestem atenção: estamos num ritmo antropofágico catastrófico. Sufocando a existência humana simplesmente por ser humana. Exigindo comportamentos divinos e impecáveis de quem veio à essa Terra pra errar e justamente através disso, evoluir.
Gente não se cancela. Quando existe erro, deve existir acolhimento, entendimento e aprendizado. Ou, caso o erro não seja um erro e sim um crime, deve haver punição. Erros não são crimes e crimes não são erros. É preciso que enxerguemos as coisas com o tamanho que elas tem.
Eu amo gente falha. Gente que erra muito! Isso é sinônimo de gente viva e corajosa que mergulha na existência de corpo, mente e espírito.
Minhas protagonistas preferidas são completamente falhas, caóticas, chatas, cheias de complexos e traumas. Eu me identifico profundamente com a sua forma desajustada de caminhar pela vida. São nelas que eu me inspiro.
Como mentora de liderança feminina, eu lido diariamente com mulheres fantásticas com um medo em comum: o de serem vistas como gente e serem “canceladas” pelo mesmo motivo.
Você sabe pra onde o desejo de ser límpida e coerente o tempo todo te leva? A crises de ansiedade, fobia social e falta de motivação para assumir e materializar os seus reais desejos.
A necessidade de saber tudo sobre todas as coisas para poder opiniar (porque se você não tiver uma opinião sobre tudo o que está acontecendo no mundo você é uma alienada) te leva ao medo profundo de compartilhar a sua opinião se você sentir que ela destoa um milímetro do que estão dizendo ser o correto.
Resultado: ou você finge que concorda, ou você finge que se aliena.
E enquanto você segue silenciando a sua voz e escondendo a sua verdadeira face do mundo, os pequenos e barulhentos vigilantes dos erros alheios seguem fortalecidos e anônimos dentro de suas tocas.
A partir do momento que você aceita os erros, as incoerências, o caos que é ser gente, vai perceber que a vida se torna apenas o que ela é e não uma ideia idealizada de perfeição.
E então você para de dizer que é “perfeccionista” com aquele risinho contido no canto da boca que denuncia que no fundo você acha que essa é uma qualidade virtuosa e começa a ATUAR. Que não tem absolutamente nada a ver com “fingir”. Atuar é agir. Um ator é aquele que age. É o agente ativo de sua existência. E é isso que faz a história acontecer e ganhar vida.
Pare de esperar do outro que ele seja a coerência personificada e tire dos seus ombros essa mesma pressão. Deixe que seus erros te ensinem mais sobre quem você não é. Você precisa dessa informação para entender quem você é.
Bora nesse movimento de mulheres que não tem medo de perambularem pelo mundo desfilando suas existências errantes e desejantes e que gargalham na cara dos fiscais da perfeição?
Para você se inspirar:
Essa entrevista da magnífica Elis Regina dizendo o que pensava
Cena icônica do ator Osmar Prado recitando o poema de Pessoa
Essa entrevista caótica de Fernanda Young com Rita Lee
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Maravilhosa!!!
Ser humana é libertador!