São Paulo, 2 de Dezembro de 2023.
Lucas me deixou no metrô Moema e eu parti em direção ao Faria Lima onde encontraria minha amiga Ananda para um café. Linha lilás, linha verde, linha amarela. Fazia tempo desde a última vez que eu havia andado de metrô sozinha.
Entre paradas e baldeações, me vi. Vi a Ynara de anos atrás. Apressada, como a cidade pede. Carregada de mochilas, sacolas e vontades.
Eu parei os minutos que tinha dentro do metrô para lembrar dessa vida passada. Dos hábitos, cheiros, da rotina, dos medos, dos sonhos. De como eu amava morar em São Paulo! Eu amava aquela loucura, a diversidade, a acessibilidade…
Eu sorri pra imagem de mim que cruzou meu caminho naquele dia. Acompanhei seus passos olhando de uma distância segura pra que ela não me visse. Desci na Faria Lima e a segui mais um pouco porque o caminho pro restaurante que ela trabalhava era o mesmo que eu ia fazer. Passei pertinho de duas casas de testes de publicidade que ela frequentava sempre com esperança e alívio de saber que naquele dia teria cachê teste! Mais 80 reais pro mês da artista!
Ela virou uma rua para chegar ao seu trabalho e eu segui reto para encontrar minha amiga e desfrutar de um sábado lindo de sol como aquela Ynara sonhava em fazer enquanto levava um gin tônica geladamente tentador na mesa 23.
Tive um dia delicioso de cocotices com a minha parceira de brisas&crises&celebrações e peguei um Uber às 21h40 para encontrar o Lucas que estava num bar com os amigos.
Por um momento, me esqueci que SP é imensa e só digitei o nome do bar, cliquei no primeiro que apareceu e pedi a corrida. Estranhei que estava bem barato, mas achei que era sorte do dia. Resultado: fui parar numa segunda unidade do bar do lado oposto da cidade. Percebido o erro, o motorista disse que era só eu alterar no aplicativo que ele me levaria ao novo endereço. Aceitei porque não fazia ideia de onde eu estava e um tico de medo começou a dar as caras.
Enquanto estava irritada comigo por ter que gastar uma nota de Uber para atravessar a cidade por conta de um erro bobo, a Ynara do passado apareceu de novo. Num dia que ela pegou um ônibus para a direção oposta e foi parar num lugar muito, mas muuuuito longe de casa com zero reais no bolso e sozinha. Desceu e foi atrás de um caixa eletrônico para sacar 10 reais. Achou um banco, entrou morrendo de medo porque era noite e ela era uma mulher sozinha sacando dinheiro numa avenida. Deu tudo certo e ela conseguiu voltar pra casa. Demorou só duas horas a mais do que ela imaginava…
A Ynara do presente estava em um Uber e, por mais que se irritasse, podia pagar tranquilamente por seu erro. Ao invés de 20 minutos, demorou 55 para chegar ao bar e encontrar seu namorado.
Sentada no Uber, eu abracei mentalmente aquela menina que voltou chorando de cansaço e raiva pra casa e sonhando com o dia que poderia pedir um táxi e “foda-se”. E eu comecei a agradecer sem parar pela minha trajetória, escolhas, erros, desafios, dores, medos, sonhos, desejos… Caceta, menina, olha onde a gente está! Muito do que eu sonhei e parecia distante, eu vivo hoje.
Eu tenho muitos sonhos e desejos ainda e vira e mexe me faço parar para olhar em volta, olhar para trás e perceber o tanto que já foi caminhado. Porque olhar para o futuro é gostoso e muitas vezes nos distrai do aqui-agora.
Mas a sensação de estar presente e perceber que tanta coisa mudou e muito já foi conquistado é das mais gostosas de sentir.
Você que me lê, leia com atenção: quando errei o caminho no Uber, fui muito cruel comigo por alguns minutos. E foi aí que chamei a líder de mim para botar ordem. Ela chegou e perguntou: “o que houve?”. A Cruella entrou com seu discurso punitivo com toda força e a líder apenas disse: “pode parar aí’” e me trouxe à mente as imagens do passado enquanto dizia: “apenas agradeça”. E fui me acalmando, me acolhendo e sorrindo. E isso mudou completamente meu estado de espírito. Isso é autoliderança. É hábito, prática. É um estilo de vida.
Honrar a sua trajetória, agradecer as suas versões passadas e pedir orientação às futuras. Honrar nossa ancestralidade não é apenas olhar para as mulheres da nossa família, mas também para as versões que fomos que não existem mais e que abriram caminho pra quem somos hoje.
Espero que essa história te faça lembrar do quanto você caminhou pra chegar até aqui. Como aquela música linda do Cidade Negra, lembra?
“A vida ensina e o tempo traz o tom
Pra nascer uma canção
Com a fé do dia a dia encontro a solução”
Pra gente se conhecer melhor:
Me conta nos comentários uma conquista sua? Não se julgue, me conte aquilo que mais te emociona de ter conquistado! Tenho uma lista, mas te conto algumas: meu relacionamento, meus finais de semana e meu café gourmet.
Te vejo semana que vem. Ou nessa ainda? Quem sabe…
Com amor e caos,
Yna
O estilo de vida de treinar todos os dias. Antes isso era uma meta, mas hoje é um estilo de vida que traz outros hábitos saudáveis pra mim, como a alimentação. A Taci de 100 anos agradece a Taci de hoje.
Hoje eu me atrasei para sair de casa e, além dos dois ônibus que eu já tinha que pegar, peguei o metrô para chegar mais rápido à faculdade. E, ao invés de pensar na grana extra que eu gastei, só pensei: "Que bom que eu tenho essa grana para facilitar o meu trajeto". É bobo, pode até ser pouco, mas me fez um bem danado não vibrar na escassez, na reclamação, na autopiedade.
Quanto às conquistas, vou compartilhar duas de hoje: mandei super bem no seminário acadêmico que eu apresentei e peguei o ônibus que vai pelo caminho mais rápido para a minha casa. 🙏🏽✨