então, como boa brasileira, eu resolvi improvisar.
o dia que eu me tornei fã de quem eu fui aos 14 anos.
esses dias eu me lembrei de uma coisa que eu fiz aos 14 anos que me fez pensar: “uau! eu sou fã dessa menina!”.
em 2005, eu tinha um pequeno celular preto e laranja da sony ericsson. já era uma grande coisa ter um celular nessa época, mas eu estava rodeada de pessoas ricas que tinham versões atualizadas e modernas de celulares, ipods e o que surgisse. isso não é um drama, hein? eu tive e tenho uma vida bem tranquila e eu amava meu celularzinho.
o celular moderno das minhas amigas permitia que elas colocassem suas músicas preferidas como toque de celular. eu achava isso o máximo, mas era uma função que o meu não tinha.
então, como boa brasileira, eu resolvi improvisar.
na época, eu era MUITO (mas muito mesmo) fã da Marjorie Estiano.

eu tinha o cd original comprado com o dinheiro que fiz vendendo brigadeiro na escola (visionária empreendedora) e o dvd pirata que meu pai comprou pra mim (desculpa, mundo! meu pai é capricorniano). então me veio a brilhante ideia: por que eu não gravo a música do meu celular e coloco a gravação como toque?
gênia! foi exatamente o que eu fiz. o problema é que a música que eu mais gostava no momento era uma versão de Cherish, da Madonna, que a Marjorie cantava no ao vivo, então tinha de fundo o barulho dos aplausos e dos gritos dos fãs malucos como eu. mas isso me impediu a pequena garota determinada que eu era. gravei e coloquei como toque.
a primeira vez que meu celular tocou na frente dos meus amigos, a reação foi de espanto: “gente, que barulho é esse? de onde tá vindo isso?”. e eu, bem plena, respondi: “é meu celular!”. pronto. todo mundo caiu na gargalhada. eu era conhecida por ser um tanto hippie e tinha um apelido carinhoso de Mãe Natureza. eu acho que era pra ser bullying, mas eu não caía e achava fofo. e aí toda vez que meu celular tocava, alguém dizia: “ah lá os sons da natureza!”.
era realmente muito ruim. um grande chiado horroroso e só eu conseguia decifrar a música que tentava ser reproduzida ali. mas pra Ynara de 14 anos, ela conseguir ouvir era só o que importava.
fiquei pensando na ousadia daquela garota em sustentar seu toque horroroso dentro de uma turma de amigos que tinham celulares bacanas com toques límpidos. e o melhor é que eu mantive meu toque assim por um bom tempo!
contando essa história pro Lucas (meu amor) e rindo da minha cara de pau, me veio o grande insight: existiu um momento na minha vida que eu fiz de tudo para ser exatamente quem eu era.
eu acho isso tão bonito.
não que não me importasse pertencer, mas me importava mais ser eu mesma. por isso eu não ligava pras tiradas de sarro — por isso e porque eu tenho um pai especialista em zoar outros. e quando seu próprio pai te zoa, nada mais te abala.
e foi olhando praquela menina de 14 anos que eu percebi que todas as vezes que eu tentei ser aceita, eu não fui. todas as grandes amizades que eu tenho começaram sem performance, naturalmente, de guarda baixa.
aqueles amigos tiravam sarro do toque do meu celular, mas estavam sempre comigo. eles queriam a minha companhia tanto quanto eu queria a deles. eu não tinha medo de ser eu mesma ali. eu era. eu simplesmente era.
pra mim, isso se estende ao trabalho criativo. se eu preciso performar o que eu não sou, eu estou realmente atraindo quem gosta do que eu faço? e pior: eu estou criando e expressando o que é verdadeiro pra mim?
recebi algumas mensagens numa caixinha de perguntas de mulheres com medo de se sentirem julgadas se expressarem quem são. e aí eu te pergunto: quando nós não estamos sendo julgadas? e mais: quando nós mesmas não estamos julgando?
você não gosta de todo mundo. você julga as escolhas de algumas pessoas. você aponta dedos, revira olhos, tira sarro, critica, duvida. você não é uma santa imaculada. ou eu tô errada? (se você conhece, leia essa pergunta com a voz do Senhorita Bira, por favor)
você sabe como é estar na arquibancada e como ela pode ser cruel. é só por isso que você teme tanto descer pra arena. mas você também sabe que são apenas as pessoas da arena que conquistam o que querem. então você quer estar ali. mas ainda não se sente segura pra pagar o preço.
eu entendo. é um preço alto mesmo. o preço da liberdade, da autonomia e da autenticidade nunca foi baixo. mas você já paga uma pequena quantia e eu posso provar:
o tempo todo alguém revira os olhos pras suas escolhas. pequenas ou grandes. já te falaram da sua aparência, do seu gosto por café ou chá, gato ou cachorro, da sua vontade de ser ou não ser mãe, casar ou não casar, da sua orientação sexual, do lugar que você escolhe viajar… já palpitaram em tudo! ou eu tô errada? (de novo, por favor)
porque essa é uma verdade incontestável: você não vai agradar todo mundo. nem que você se esforce muito. e eu sei que você se esforça. você já se pegou pensando no tanto que você fez por alguém e, mesmo assim, a pessoa não te valorizou. eu sei.
e sabe por que eu sei? porque eu sou gente como você e sinto tudo isso e mais um pouco. porque eu já fiquei extremamente desconfortável pra agradar alguém. por isso, me lembrar de que um dia eu tive coragem de ser eu mesma e rir das críticas, piadas e risadas me deixou tão feliz.
foi como descobrir um tesouro escondido.
tem uma pergunta que eu deixo pras minhas mentoradas que é: “quem você realmente era antes de te dizerem quem você é?”. a reposta não virá automaticamente. ela surge aos poucos com as lembranças que emergem quando a gente pede pra ver.
essa da Ynara de 14 anos e seu toque apocalíptico foi a mais recente. me agarro a ela com vontade pra cada vez mais tirar de mim as cracas que grudaram no meu casco ao longo dos anos. como as que grudam nos barcos sem que a gente perceba.
o medo de ser julgada não irá embora e também não fará absolutamente nada por você a não ser te deixar frustrada e insatisfeita por não conseguir viver sua vida como bem deseja.
a vida é sua chance de contar a sua história. imagina que você estivesse lendo a sua vida como num livro. você estaria feliz ou angustiada com as escolhas da protagonista? o que você faria de diferente, se fosse ela? o que você diria pra ela, se pudesse?
a boa notícia é que você pode.
antes que eu me esqueça…
vem ser minha mentorada? eu quero tirar de você esse medo e te colocar no palco. você vai aprender a se comunicar melhor através da sua voz e das suas criações. vou te passar estratégias? também! mas mais do que isso: eu quero te transformar numa porta-voz do que você faz e acredita. então clica aqui, preencha o formulário e aguarde meu contato. (inclusive, em breve teremos um site bem lindo da mentoria! já está em produção! tô super animada).
como eu disse nesse notes, Janeiro quis me derrubar. por isso ainda não voltamos com a programação do podcast, mas voltaremos dia 06/02 com tudo! se você ainda não conhece o Vida Desejante, pode acompanhar pelo spotify e pelo youtube. vou deixar um gostinho aqui pra você:
curadoria da semana:
só isso mesmo.
que texto fantástico! eu também tinha esse sony preto e laranja e gravava algumas músicas do som da minha casa pra poder ouvir no intervalo da escola hahahaha (saudade zero)