energia feminina: cura ou armadilha?
o boom das “esposas tradicionais” nas redes sociais e o que isso nos conta sobre o que as mulheres desejam
passeando pelo feed infinito do tiktok, me deparo com várias mulheres produzindo conteúdo sobre casa e maternidade: decoração, culinária, limpeza, relacionamento… até aí, tudo bem. tudo ótimo. eu adoro acompanhar e fico sonhando com o dia que vou ter a paciência de organizar uma geladeira de maneira tão harmônica e impecável. também costumo salvar as receitas para quando a vontade me encontrar, passar uma tarde na cozinha assando bolos e cookies.
ao mesmo tempo, na vida fora das telas, tenho percebido uma crescente na exaustão feminina. o burnout estatisticamente afeta mais as mulheres. pode jogar no google e você encontrará muitas matérias com resultados como esse:
“Enquanto, no geral, 19,82% das pessoas tiveram respostas que os classificariam com burnout, entre as mulheres de 35 a 44 anos esse percentual subiu 29,27%, tornando-as o público da pesquisa com a maior incidência de sintomas relacionados à doença.” - Revista Exame
atendo em mentoria mulheres de diversas profissões e classes sociais, mães ou não, casadas ou não, todas tem algo em comum: já sofreram ou estiveram à beira de um burnout.
super exigentes consigo mesmas, elas se conduziram ao nível máximo da exaustão e hoje buscam o retorno pra casa. aprender a experienciar a vida com presença, descansar sem ansiedade, ter tempo para si e para os seus, encontrar um hobby, sair do automático. em resumo: elas querem viver!
uma ilusão tentadora
voltando ao feed infinito do tiktok, existe uma nova hashtag famosa por lá principalmente nos perfis da gringa: #tradwife, ou “esposa tradicional”. se você for buscar, encontrará uma série de vídeos de mulheres cozinhando super bem vestidas e maquiadas em suas cozinhas extremamente limpas e aesthetics. qualquer semelhança com o estilo de vida estadunidense tradicional perpetuado na década de 50 não é mera coincidência - é objetivo.
já aqui no Brasil, os perfis que te ensinam a ser mais feminina pra finalmente atrair o homem dos seus sonhos só crescem. com o argumento de que você precisa se desconectar do masculino que te conduziu a um burnout, elas te levam a suavizar e aceitar o seu “papel de mulher”. afinal, essa vida de buscar uma carreira, ter ambição e se tornar independente te transformou numa mulher exausta e solitária. e alguns perfis ainda acrescentam a cereja do bolo: a Bíblia como manual de estilo de vida.
e é exatamente aqui que a distorção do verdadeiro significado de conexão com o feminino acontece. e é também aqui que as mulheres que não aguentam mais tentar equilibrar os milhares de pratinhos que o mundo da Alta Performane exige começam a flertar com uma volta ao passado onde tudo parecia mais simples e leve…
eu mesma já me peguei pensando: “afff, eu queria ser uma mulher do século XIX! ficar em casa, tocar piano, bordar e tomar chá. pronto!”. sendo que esse é um recorte da elite branca desse século, romantizada pelos filmes de época protagonizados pela Keira Knightley que eu amo assistir e que sempre deixam claro o fato da existência feminina ser definida pelo casamento. mas te iludem com o excesso de romantismo, fotografia e figurino impecáveis, elenco belíssimo e trilha sonora divina.
da mesma forma, vídeos muito bem feitos, figurinos impecáveis e fotos cinematográficas nas redes sociais fazem com que a vida extremamente trabalhosa das donas de casa pareça algo glamuroso. inclusive, muitos comentários de jovens mulheres no início dos seus 20 anos dizem: “nossa, meu sonho!!!”.
“mulheres teriam contribuído com US$ 10,9 trilhões para a economia global em 2020 se recebessem um salário mínimo pelas tarefas domésticas que realizam” - Forbes
as mulheres não estão exaustas porque são ambiciosas e desejam mais para si. estamos exaustas porque nos movemos sozinhas para diminuir o abismo que colocaram entre nós e nossos desejos. estamos exaustas porque é o objetivo. e exaustas com o acúmulo de funções, vamos percebendo que talvez não valha a pena ser girlboss. e enfim começamos a flertar com o antigamente, quando tínhamos tempo.
girlboss x tradwife: as polaridades de uma mesma armadilha
em uma ponta, mulheres ambiciosas buscando competir de igual para igual com os homens no mundo dos negócios. mulheres que se distanciam do sentir e se colocam apenas no caminho da razão para provar o quão inteligentes, fortes e capazes são. são tão exigentes consigo quanto o próprio mercado, porque não querem ser vistas apenas como “um rosto bonito”, muito menos subestimadas por sangrarem uma vez ao mês ou se sensibilizarem vez ou outra com a história de um funcionário. graças à ciência, temos o anticoncepcional! e graças à semiótica, elas podem retificar suas curvas e a base de seus cabelos para passar a mensagem da autoridade. e, claro, sempre com o batom vermelho nos lábios como símbolo de empoderamento. é óbvio que os homens se assustam com seu sucesso.
na outra ponta, mulheres que deixam pra trás suas ambições e dedicam sua vida a servir a família. abaixam suas vozes porque a modéstia e a delicadeza são virtudes. sempre lindas, cheirosas e dispostas, porque é essa a imagem que o marido merece encontrar depois de uma dia intenso de trabalho. cuidam das crianças sozinhas porque essa função não é masculina. a casa também é sua obrigação, assim como recolher os brinquedos e as roupas que “os meninos” deixam espalhados…
parafraseando Senhorita Bira: elas não vão vencer.
a girlboss um dia acordará exausta e solitária e perceberá que está fazendo de tudo para se moldar a um mundo corporativo feito por e para homens. até o nome “girlboss” é condescendente.
o termo lembra a todos que existe um estilo de ser chefe: que existe um chefe homem e uma chefe mulher. e não importa o quanto você trabalhe, você ainda é uma garota – você é uma garota em um mundo de homens - diz Kristen Syrett, professora de linguística da Rutgers University nessa matéria da Forbes.
a tradwife um dia acordará exausta e solitária e perceberá que sua vida é uma farsa. todas as suas vontades foram abafadas, ninguém valoriza o que ela faz e ninguém, absolutamente ninguém, a enxerga. ela não lembra a última vez que sentiu prazer em fazer algo por si ou em simplesmente existir.
existe saída?
primeiro, eu sinto que preciso te dizer uma coisa. você é absolutamente livre para escolher o caminho que pretende seguir. CEO da empresa ou do lar, se o espaço que você ocupa te preenche e faz sentido, é o seu lugar. a minha proposta é fazer com que você exista de maneira abundante e desejosa seja onde for. eu te quero desperta, atenta e presente. quero que você conheça as armadilhas para que possa desviar delas e florescer no caminho da sua escolha. porque existe sim um caminho do meio e ele começa a ser pavimentado dentro de você.
e para isso, finalmente vamos falar da polêmica que entitula esta news: energia feminina!
eu realmente acredito que mulheres que estão muito na polaridade Yang (masculina), precisam abrir espaços para o feminino. eu realmente acredito que são mulheres com dificuldade de encontrar uma relação saudável. não porque os homens não dão conta, mas porque não há espaço. normalmente são mulheres que não se permitem serem vistas, ouvidas, acolhidas. simplesmente porque sentem a vulnerabilidade como um perigo.
ao mesmo tempo, mulheres muito Yin (feminino) tendem a não saber como expressar seus limites. misturam-se tanto no outro que não sabem mais quem são. também não tem vontade, motivação. falta tônus para enfrentar a vida e acabam sentindo que precisam, sim, de alguém para salvá-las ou tomar à frente por elas.
o caminho de resgate do feminino é um caminho pra dentro. um retorno à casa! uma casa criativa, desejante, pulsante, cheia de libido e vontade de viver. resgatar essa potência e uni-la à força de ação e ao ímpeto do masculino é a chave para uma existência harmônica e preenchida. perceba que eu disse harmônica, não equilibrada. porque é na dança entre as polaridades que a vida acontece… cada hora somos conduzidas por uma, revezando protagonismos.
ser uma mulher ambiciosa profissionalmente não deve te impedir de nutrir uma relação saudável ou de experienciar a maternidade. ser uma mulher que se dedica ao lar e à família não deve te impedir de expressar seus desejos e criar. mas para ter o melhor dos dois mundos, é preciso aprender a viver a vida em um outro ritmo.
para as ambiciosas profissionalmente: você não precisa “chegar lá” amanhã. a sua vida está acontecendo e ela merece que você desfrute no caminho. você pode desacelerar o passo para sentir o vento com calma e aprender a dividir a jornada com quem deseja caminhar junto: amores, amigos, família, quem for! você não é fraca por sentir e nem arrogante por almejar chegar tão alto. você merece amor, descanso e cuidado.
para as que desejam a vida “tradicional”: você não precisa abrir mão da sua autonomia e das suas vontades para viver como deseja. você também não merece ter seu trabalho e sua dedicação diminuídas por quem convive com você, portanto, aprenda a delimitar suas fronteiras e escolha muito bem seu parceiro ou parceira de vida. sim, você pode e deve amar quem você bem entende. não permita que cortem suas asas. você merece amor, descanso e cuidado.
este é o seu trabalho
independente do caminho que você escolher, você precisa manter os olhos atentos e os alicerces fortes. saber o que se passa no mundo é fundamental para aprender a navegar por ele. mas não se deixe afundar: vão tentar te dizer que não há esperanças e que é melhor você desistir. é mentira. há, sim, esperança. para se manter no caminho, você precisa aprender a ser água e infiltrar-se.
e para aprender a ser água, você precisa conhecer cada canto de si mesma. aprender a usar seus pontos fortes a seu favor e trabalhar os pontos fracos para que não sabotem sua jornada. fortalecer seus alicerces é entender como dançar com as polaridades e seus ciclos. colocar-se em presença sentindo e acolhendo o ritmo da vida.
uma vida desejante é desfrutar deliciosamente das suas próprias escolhas e estar presente em casa passo dado.
é o que eu desejo para você. é por isso que estamos aqui.
essa é apenas a primeira parte de uma conversa longa e um trabalho intenso que estamos fazendo juntas neste espaço. quero muito saber a sua percepção sobre o assunto e quais são os seus desejos nessa vida. me conta?
e antes que eu me esqueça…
para as que desejam iniciar esse trabalho de fortalecer seus alicerces para bancar a vida que desejam, restam apenas 2 vagas para a minha mentoria em Abril. um processo individual e personalizado com duração de 1 mês e meio. um catalisador de processos, uma transformação profunda, eu te garanto. para conhecer os detalhes, preencha o formulário e aguarde meu contato para agendarmos uma reunião gratuita onde a gente vai se conhecer e trocar sobre o seu momento para que eu te apresente a melhor solução, tá bem?
o segundo episódio do valor já está no ar!!! mostrei em detalhes como foi a comemoração dos meus 33 anos! tô amando documentar tudo pra vocês! para assistir, clique aqui.
“estamos exaustas porque nos movemos sozinhas para diminuir o abismo que colocaram entre nós e nossos desejos.”
Uma vida em uma frase!
Tem texto que é que nem espetáculo, quando a cortina fecha e o ponto final pinga a vontade é de levantar e de pé bater palmas e gritar Bravo!
Esse texto é desses, Yna. Tô maravilhada!
Engraçado que ontem mesmo enquanto, feliz da vida, dobrava as cuecas do marido, as minhas calcinhas e umas roupinhas de neném pensei comigo: preciso escrever sobre isso! como somos plurais e como nesse baile entre polaridades a harmonia é uma linha maleável, que ora estica de um lado, ora estica de outro. O desejo é sim, uma bela de uma bússola! Obrigada por materializar essa reflexão tão necessária ❤️ e feliz aniversário atrasado com um abraço extra apertado! que seja um ciclo recheado dos seus mais pulsantes desejos! v.