Em 2016 eu morava numa kitnet na Rua Maceió que cruza a Consolação na capital paulista. Era perto de tudo o que eu amava frequentar: os cafés, os cinemas, a Paulista e a casa da minha amiga Elena. Essa kitnet tinha sido casa do meu amigo Plínio. Na época dele, chamava Casa Azul porque as paredes eram dessa cor. Na minha era, pintei de vermelho cereja.
Dentro dessa pequena kitnet (que cheirava gás de cozinha graças à padaria ao lado do prédio), eu vivi meus 25 anos. A fase mais conturbada e engraçada dos meus 20. Alguns detalhes permacerão guardados em mim e na memória das amigas próximas que viveram essa era, mas outros eu vou te contar aqui.
Eu comecei morando sozinha nela. Não tinha espelho no banheiro e eu, muito garouta cult, escrevi de batom rosa uma frase em francês no lugar:
Lá era um ponto de encontro. A kit vivia cheia de gente! Festinhas, reuniões, esquentas… sempre tinha gente circulando por lá. Logo eu, introvertida e caseira que sou, vivi ali uma fase festeira.
Foi ali também que uma peça de teatro foi ensaiada. Pois é, senhoras. Eu, minha amiga Carol, um ator, um diretor e a sala-quarto onde eu morava fomos o útero da primeira peça da cia de teatro que fiz parte, a Cia do Ruído. Lembro que o ensaio começava cedo e nesse época eu era o cão de manhã. E por manhã, lê-se 9h. O que essa Ynara diria me vendo hoje acordando 7h30 felizona? Não sei hahaha Talvez que eu enlouqueci!
Mas deu certo. A peça foi levantada, ensaiada, estreiada e foi sucesso. Nesse meio tempo, a Carol começou a morar comigo na kit. Sim, senhoras. Eu e minha amiga moramos juntas numa kitnet dormindo na mesma cama por alguns meses. Loucura pra uns, aventura pra outros. E contrariando a expectativa e certeza de muitos, nós nunca tivemos um envolvimento sexual.
Foi uma fase intensa. Uma fase que me joguei de cabeça na vida e me permiti ser um pouco inconsequente - o que era inadmissível antes. Tive crushs, amores, desamores, ilusões, farras. Fumei maconha pela primeira vez (e não durou muito porque odiava o efeito), vivi porres e ressacas. Chorei de soluçar por quem não merecia e mandei um e-mail pedindo pra voltar com um ex que nem era ex porque nunca foi namorado e eu nem queria voltar mas tava confusa.
Nos meus 25 eu me permiti ser um pouco a garota descolada que sonhava ser pra perceber que realmente não levo jeito pra coisa. Uma noite de sexo casual e o dia seguinte eu tava um caco, chorando as pitangas. Dizem que isso é ser demissexual. Pode ser, não sei se preciso desse rótulo, mas fato é que eu detesto sexo casual. Também testei dar um trago ou outro num cigarro fininho e chique chamado Vogue pra ter certeza absoluta que não nasci pra isso. Odeio cigarro. Odeio com força.
Eu já conversei muito com a minha analista sobre a visão que tinha sobre mim nos meus anos 20. Eu me achava chata. Certinha demais. Careta demais. Eu queria ser diferente. Esses dias eu vi um vídeo da baixista da banda Maneskin, a Victoria, e me lembrei que era como ela que eu desejava ser. E por conta disso, eu me enfiei em algumas roubadas que podia ter evitado tranquilamente.
Eu não era a garota descolada da balada underground na noite da Rua Augusta. Eu tinha pavor da noite na Rua Augusta. Muita gente, pouco espaço, muito corote. Eu era a garota que pegava seu livro ou seu caderninho durante o dia e ia até a Rua Augusta sentar num café vendo as pessoas passarem (qualquer semelhança com a Rory de Gilmore Girls é isso mesmo hahaha).
Eu demorei pra perceber que isso não me fazia menos interessante do que as garotas descoladas da noite paulistana. Eu precisei tentar ser uma delas pra ter certeza. E o que eu descobri é que a gente não consegue performar quem não é por muito tempo. Fica insustentável.
Mas eu não me arrependo. Eu acho a Ynara de 25 maravilhosa, sabe? Ela se jogou! Ela experimentou e saboreou a vida como um bebê na introdução alimentar: algumas coisas foram aceitas e devoradas e outras ela tentou, mas eram intragáveis. Ela decorou aquela kitnet com todos os detalhes que ela queria e mesmo com todas as críticas, manteve o banheiro sem espelho. Ela amava aquela casa. E tinha realmente a cara dela! Ela viveu o que quis e como quis.
Viver os meus 25 me deu ainda mais certeza de quem eu não desejo e não consigo ser. Do que eu aceito e do que eu nunca mais vou viver na minha vida. Eu sou imensamente grata pela coragem daquela garota. Afinal, eu sou porque ela foi.
Então minha reflexão pra você é: que tal transformar seus arrependimentos em aprendizado e motivo de orgulho? Pela coragem, pela ousadia ou simplesmente por ter atravessado. O que você acha?
Um lembrete e uma novidade:
eu ando preparando algumas novidades pra vocês aqui nos bastidores! você pode acompanhar em tempo real lá no instagram. mas se não tiver pressa, pode continuar por aqui que eu venho te buscar. e um lembrete: você ainda pode entrar pro meu bonde de mulheres-potências da mentoria LSV em 2023. última chance pra esse ano e não é papinho, tá? eu vou tirar férias em breve e tenho essas outras novidades que estão tomando minha agenda. também não tenho clareza de quando a mentoria volta ano que vem. então se você sente esse chamado, mas sempre fica na dúvida se vem ou não, marca uma reunião comigo pra conhecer o processo. é só clicar aqui: Lidere Sua Vida. vai ser uma honra te guiar a liderar a si mesma!
Eu tenho tatuado na costela "Je ne regrette rien", tudo que fui, sou e serei faz parte de mim.