todo inverno é a mesma coisa e eu ainda não me acostumei. não sei se um dia vou me acostumar, mas tem ficado pelo menos mais leve cada ano que passa.
eu amo o frio. amo o conceito de pegar um cobertor, uma bebida quentinha e aromática numa xícara que nunca seguro pela asa para poder esquentar também as minhas mãos, uma música calminha tipo Sufjan ou Yann Tiersen, um caderno, um livro ou simplesmente deixar o olhar vagar pela paisagem. esse é o meu estado de espírito preferido.
o problema não é o inverno, nunca foi. o problema é um sentimentinho típico dessa época que eu tenho desespero em sentir desde que me entendo por gente: a melancolia.
talvez você esteja achando que não faz o menor sentido essa colocação, já que a cena que eu descrevi no segundo parágrafo desse texto traz um pouco essa atmosfera da qual eu vivo fugindo. mas não para mim. aquele cenário é o perfeito significado de conforto e paz.
a minha melancolia é vestida de nostalgia. colorida, mas com aquele tom sépia que as fotos reveladas tinham, sabe? sua trilha sonora é “não aprendi dizer adeus”, de Leandro e Leonardo, porque por mais que o trem mova, eu continuo sendo uma garota que nasceu no interior de São Paulo nos anos 90.
ela é faminta por coisas que não habitam meu armário e minha geladeira há anos: leite com Toddy e bolacha Passatempo recheada de chocolate, miojo de tomate da Turma da Mônica com requeijão, o doce de leite da minha avó e o iogurte natural que a minha mãe fazia, mas com meu toque especial que a deixava indignada: Nesquik de morango.
como você já deve ter percebido, minha melancolia é uma pequena criança com medo de perder a sua mãe dentro de um mercado atacadista com suas prateleiras gigantescas e sufocantes.
por isso o desespero e a vontade de tirar esse sentimento de mim com as unhas, como se eu pudesse puxá-lo do centro do meu peito.
mas fugir do que se sente é fugir de quem se é.
e eu não sou uma mulher em fuga. eu sou uma mulher em busca.
não acredito que precisamos gostar de todas as partes de nós para sermos generosas com nossos processos. também não precisamos nos relacionar super bem com todo tipo de sentimento que nos habita. mas podemos ser um tanto mais confiantes de que, por mais que nos assuste, o que sentimos não tem o poder de nos destruir.
perder o controle não é perder-se de si.
eu decidi me deixar sozinha algumas vezes no supermercado atacadista labiríntico da minha mente, com prateleiras imensas e sufocantes e “não aprendi dizer adeus” tocando ao fundo. não para ser cruel comigo, mas para que meu mesma me tire de lá quantas vezes for necessário e mostre praquela pequena criança que habita meu inconsciente que eu a vejo, a acolho, a busco. a melancolia desesperadora não é o fim do mundo, ela precisa saber disso para que me deixe livre para sentir em paz.
tem sido um trabalho daqueles. mas não existe outro caminho. as coisas não mudam dentro da gente só porque decidimos pensar, estudar e falar sobre elas ou elaborá-las em análise.
eu acredito que, assim como no teatro, nós estamos vivas para, através das nossas ações, descobrir quem somos enquanto contamos nossa história. e um bom ator não é aquele que sabe exatamente o que fazer, mas aquele que se permite estar presente, sentir e partir daí, agir.
por isso, eu desejo que nessa despedida do sol em câncer, eu e você tenhamos cada dia mais coragem de tomar a vida por inteiro e beber sentimentos a goles fartos.
porque sentir é estar deliciosamente viva.
e viver é inevitável.
mural do desejo
essa semana o sol e a lua entrarão em leão e no dia 24/07, em plena lua nova, todas as patrocinadoras dessa newsletter receberão a primeira prática-feitiço guiada por mim através dos oráculos e da poesia.
a intenção é tirá-las da mente e conduzi-las a vestir a pele da presença do corpo para que aos poucos vocês construam uma relação cada vez mais íntima e gostosa com quem são aqui-agora e assumam os efeitos colaterais dessa existência deliciosamente desejante. para quem ainda não faz parte e deseja entrar pro nosso clã, clique aqui.
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curadoria da semana
🎧o tipo de música que me faz sentir a paz que descrevi nesse texto
🎬tô assistindo a série The Good Place e adorando, gostosinha&filosófica
📚não ser nada além de um ser humano que faz — esse texto lindo da
conversa muito com a temática de hoje
"Beber sentimentos a goles fartos" ficará em minha mesa de trabalho a semana inteira, bem diante dos meus olhos para que eu não me esqueça.
Obrigada por isso. 💖
linda 💛