alguém é realmente feliz?
uma conversa entre duas mulheres com mais de 30 anos em busca de.
- mas eu acho que ninguém é totalmente feliz, né?
- eu sou…
ontem esse pequeno diálogo fez parte de uma conversa profunda entre mim e uma das minhas melhores amigas. a verdade é que nesses mais de 10 anos de amizade, vira e mexe ela me faz essa mesma pergunta e eu respondo da mesma maneira. mas só agora tô sendo realmente verdadeira.
eu sou ridiculamente positiva e otimista. tô sempre buscando a fatia boa de todas as situações. minha amiga é mais cautelosa e sempre pensa no que pode dar errado. ontem eu disse pra ela:
“- daqui a pouco eu vou te empurrar do precipício! vai, só voa!”
nós rimos enquanto andávamos de braços dados na calçada. somos tão diferentes e nos amamos profundamente há tempos…
uma coisa que eu aprendi nessa relação foi a ouvir mais e começar a enxergar o outro com seus limites, histórias, desejos e vontades tão diversas ao que eu, do alto da minha arrogância juvenil, considerava o melhor.
um dia, ela estava desabafando sobre uma questão muito dolorida e eu atravessei para dizer o que ela tinha que fazer. e foi a primeira vez que ela conseguiu me dizer: “você não tá na minha pele, a relação é minha, o sentimento é meu. eu sei o que eu tô sentindo. eu só quero desabafar!”
eu não sei se ela se lembra disso, mas me marcou. eu me vi de fora e percebi como era arrogante e controladora na nossa amizade. como eu achava que sabia mais sobre ela do que ela mesma! parei pra pensar e percebi que achava que sabia mais do que muita gente. a diferença era que minhas outras amigas sempre me peitavam. e eu dizia: “fulana é teimosa demais!!!”
a partir do meu retorno de saturno, quando decidi começar a me relacionar comigo mesma, eu pude ter dimensão do tamanho da minha ignorância. eu vi como era fácil perceber as inseguranças e dificuldades das pessoas e como eu não percebia os meus próprios bloqueios…
talvez eu esteja sendo um pouco exagerada e cruel comigo e você esteja tendo uma imagem de alguém completamente sem noção e insuportável. não era o caso. eu sempre fui muito acolhedora, amorosa e boa ouvinte das minhas amigas e escolhi palavras fortes para este texto apenas pelo bem da poética. o problema era que eu queria tanto tirá-las da dor que sentiam, que buscava mil e uma soluções ao invés de simplesmente acolher.
e eu fiz muito isso comigo mesma.
ao invés de acolher e integrar minhas dores, traumas, inseguranças, eu tentava dar uma utilidade e justificativa a eles. ou pior: eu dava uma de coach sem noção e nem me permitia dizer palavras negativas ou olhar para essas situações como elas realmente foram. eu maquiava. contava o que foi bom ou inventava algo bom.
e eu me achava positiva e feliz.
ontem, quando eu disse pra ela que eu sou feliz, logo em seguida eu disse que obviamente tinham coisas chatas e desafios na minha vida, que nem todos os dos eram gostosos, felizes e leves. mas que, mesmo assim, eu me sinto genuinamente satisfeita com o que tenho vivido.
porque, pra mim, ser feliz não é não ter desafios ou dias ruins. não é não desejar mais ou não cair no choro de raiva, vez ou outra. ser feliz, para mim, é olhar em volta e perceber que, mesmo com os desafios, eu estou onde escolhi e quero estar.
hoje eu digo com certeza que sou feliz porque não me engano sobre mim ou sobre a vida. não excluo o que é difícil de lidar, meus desafios, defeitos e histórias tristes. tá tudo aqui. como diz minha amiga
: o segredo é escolher o seu difícil, porque fácil não vai ser mesmo. pra ninguém.ontem, depois de ouvir as inseguranças da minha amiga, contei as minhas pra ela. meu excesso de cobrança e busca por excelência que me faz desrespeitar meus limites até meu corpo reagir com a pior sinusite dos últimos tempos. ouvi seus conselhos, suas broncas e palavras de incentivo. e depois rimos de nós mesmas.
eu não era boa em me revelar vulnerável. por isso eu tinha tanto medo da vulnerabilidade alheia e precisava “corrigi-la”. ainda bem que isso mudou! ainda bem que posso ser uma grande bagunça incoerente na frente de quem amo e continuar sendo amada por isso. e ainda bem que posso continuar amando a bagunça incoerente de quem amo.
dá pra ser feliz no caos. ou melhor: só é possível ser feliz se o caos puder participar da festa. do contrário, a felicidade se torna uma busca idealizada, distante e, ouso dizer, impossível.
eu quero (e te desejo) a felicidade possível.
antes que eu me esqueça…
semana passada te contei uma novidade, mas cometi um erro e não te trouxe mais informações! aí vai:
dias 5 e 6 de Outubro vai acontecer a vivência presencial Desejante em Florianópolis!!!!!!! eu não estou me aguentando de felicidade em compartilhar isso com vocês! mas ó, serão apenas 15 vagas, então não perde tempo, hein? toda a programação, custos, detalhes estão aqui:
Desejante - a vivência!
·depois de 4 anos guiando mulheres no mundo virtual, chegou a hora de nos olharmos nos olhos. literalmente.
curadoria da semana:
a música que ficou na minha cabeça enquanto escrevia foi essa aqui (inclusive, Olivia é minha grande companheira de criações):
o último episódio do podcast tá danado de bom! deixo aqui o formato em vídeo, mas vocês também podem ouvir pelo spotify. semana passada não teve episódio novo porque adoeci, mas essa quinta às 11h voltamos à programação normal!
o Stromae é meu cantor preferido e esse Tiny Desk só é ruim porque acaba:
Aquela sensação de estar bem na nossa própria pele. Eu me vejo muito nessa leitura e a palavra satisfeita tem feito cada vez mais parte da paz que eu quero viver.. tentando me afastar um pouco do meu difícil que é a autocrítica disfarçada de “sempre podemos melhorar”. Estar satisfeita e aceitando o melhor que já estou fazendo expõe minhas vulnerabilidades e, como bem disse Verbena abaixo, envelhecer é uma das coisas mais deliciosas de se viver.. arisco a dizer que os altos e baixos dão o tom da nossa canção divina. Delícia de texto! Gratidão minha querida! ❤️
Amadurecer e envelhecer é de uma beleza, né?
Nasa mais inspirador do que ver alguém encontrando e construindo a felicidade possível em meio aos constantes desafios da vida adulta, se acolhendo em meio ao caos de se ser e se celebrando ao vestir cada uma das diferentes camadas da própria pele.
Você é sempre inspiradora, Yna.
Um abraço meu em ti ❤️