olá, desejante. talvez esse texto esteja muito longo para ler do seu e-mail. não quis editá-lo e você vai entender o motivo ao longo da leitura. então, considere clicar aqui e abrir no Substack para uma experiência mais gostosa.
17/06/25
não acho meu óculos de sol.
eu tinha tanta certeza de que ele estava no porta-luvas do carro que nem me dei ao trabalho de conferir. fui toda contente e dei de cara com um grande vazio.
de repente, o desespero. procura no chão, no banco, tira tudo do porta-luvas umas 50 vezes na esperança de que ele milagrosamente apareça. olha embaixo, em cima, dos lados, em todos os bolsos de todos os casacos, em todas as bolsas, mesmo as que não uso há meses. nada…
não o esqueci em lugar nenhum. eu nunca esqueço! estou sempre de olho nele, com todo cuidado do mundo. foi o primeiro óculos de qualidade que comprei com meu dinheiro, sabe? eu valorizo meu dinheiro. eu valorizo as horas que trabalhei pra comprar um Ray-Ban original direto do site oficial.
um Ray-Ban original era o óculos do meu avô. ele comprou não sei quando, não sei onde. aquele modelo aviador, sabe? deve ter custado uma nota… meu avô não era rico. era migrante, caminhoneiro, pai de 9 filhos. mas em algum momento da vida que eu não sei qual foi, ele comprou um Ray-Ban aviador original de armação dourada e lentes verdes.
o meu também tem lentes verdes. e falo no presente porque ainda tenho esperança de encontrá-lo no chão, fincado na dobra do sofá, dentro de alguma gaveta, em cima da prateleira ou caído dentro do guarda-roupa. não sei. talvez eu tenha guardado em algum lugar que me pareceu uma boa ideia quando estava com o cognitivo afetado pela influenza e agora que a lucidez voltou, não consigo me lembrar. talvez eu o encontre. talvez milagrosamente ele apareça dentro do porta-luvas.
mas meu avô, não. não importa o quanto eu procure, quantos móveis eu levante, quantos bolsos eu vasculhe, não o encontrarei mais. não o verei mais. como não vejo minha avó paterna há 10 anos, minha cachorra Lua há 9 anos, minha avó materna há 8 anos. uma atrás da outra. a morte nos visitou 3 anos seguidos naquela época. voltou agora, 8 anos depois.
estávamos com a mesa posta, esperando sua visita. não foi surpresa quando ela chegou, mas se você já recebeu a visita da morte, você sabe. ela pesa, mesmo que traga alívio. ela assusta, mesmo quando não a tememos. porque a morte nos tira e a gente sabe, a gente sente em cada poro que depois de sua visita nada mais será o mesmo. ela deixa um vazio, um espaço aberto que nunca mais se fecha. uns são gigantes, outros minúsculos, mas nunca, nunca, nunca inexistentes.
se eu não encontrar meu óculos quando eu voltar, no mesmo dia vou entrar no site da Ray-Ban e comprar outro igualzinho. vai me custar centenas de reais, mas tudo bem. eu trabalho também pra isso.
mas nem que eu desembolsasse centenas de milhões da moeda mais cara do planeta eu conseguiria comprar 2 avós, 1 avô e 1 cachorrinha poodle minúscula de cor bege, focinho curto e olhar julgador iguais aos que fizeram parte da minha vida.
eu senti tanta raiva quando não encontrei meu óculos porque no fundo eu sabia que era possível tê-lo de volta, de um jeito ou de outro. mas eu queria naquela hora. eu queria meu óculos. porque eu não queria perder mais nada naquele dia.
estou embarcando para Manaus viver a experiência que mais amo no meu trabalho, guiar uma vivência presencial. depois, vou pra São Paulo me reunir com a minha família e com meus amigos. passei o ano inteiro esperando esse momento, mas não esperava que ele acontecesse entrelaçado ao luto e à raiva.
aos poucos a vida está me mostrando que é preciso aceitar vivê-la como ela se propõe a acontecer. eu sempre acreditei que momentos felizes eram só felizes e momentos tristes eram só tristes. ou melhor, não sei se acreditava nisso, mas era como tentava viver. dividindo emoções em pequenos frascos e bebendo um por vez.
dessa vez, a vida me deu uma garrafa imensa e um porre danado. sinto tudo. alegria, satisfação, medo, tristeza, raiva, gratidão, amor profundo, cansaço, energia, ansiedade, calmaria. o gosto é indecifrável e a sensação é de estar dentro de uma máquina de lavar roupa sendo chacoalhada pra lá e pra cá.
11/08/25
a viagem foi incrível e consegui viver com presença cada dia. a Amazônia sempre dá o que a gente precisa. dessa vez, ela acendeu minha força interna e me lembrou que o caos é, na verdade, a ordem. e é possível descansar nele.
saí de Manaus e fui pra Limeira. finalmente pude estar com a minha mãe e levar amor para ajudá-la a atravessar o luto. também revi minha irmã e meu sobrinho e tivemos dias deliciosos em família, apesar da ausência.
depois, fui para São Paulo. reencontrei minha cunhada e meus sobrinhos que não via há dois anos. me encheu de amor até a boca! revi algumas amigas e tive que lidar com a chateação de não ter tempo nem energia para encontrar todo mundo que queria.
voltei pra casa, reencontrei meu óculos e minha rotina.
te escrevo para dizer que a vida bagunça, mas se ajeita. ela tira, mas dá em dobro. dói, mas transborda amor. o que era tão intenso antes, passa. mas é preciso viver cada coisa, porque nada escapa.
viver é inevitável.
mural do desejo
✨ faltam apenas 3 mulheres na roda da Residência Criativa. eu tenho certeza de que a Velha tá escolhendo a dedo cada uma. se você sentiu o chamado, mas ainda sente uma pequena gota de dúvida, vem conversar comigo. na página você encontra um botão que leva direto pro meu whatsapp. deixa a vergonha de lado e me chama. vou adorar te explicar como funciona e te ajudar a decidir se é realmente pro seu momento.
curadoria da semana
🎧eu amei o episódio de estreia do Curiosa Convida da
entrevistando a🎬quando eu amo uma atriz, assisto absolutamente qualquer coisa que ela se mete a fazer. e foi assim que eu assisti Thunderbolts, da Marvel, e achei bastante divertido. Florence Pugh, te amo!
📚semana passada foi ao ar a primeira edição da
e eu tive a honra imensa de contribuir contando minha história a convite da . se você ainda não leu, deixo aqui.
Que texto sensível Yna! Sinto muito pela sua perda, espero que seu coração esteja/fique em paz 🫶
Eu sinto muito, Yna. A dor de perder alguém estando longe é gigante. Feliz que se encheu de amor e abasteceu o coração dos outros também, só assim pra enfrentar o luto (e a vida).
Toma cá um abraçinho 💛