a única opção é enlouquecer (e isso é uma boa coisa)
já nos chamam de "loucas", bora vestir a carapuça
em 2004, me apaixonei pelo Cazuza. eu tinha 13 anos e minha mãe me levou à pré-estreia do filme de tanto que eu insisti.
na semana seguinte a esse evento, ela foi questionada por outras mães da minha escola: “você tá maluca? como é que você leva sua filha para assistir o filme desse depravado? a minha filha não vai assistir!”. e minha mãe tranquilamente respondia que cada uma criava a sua cria como bem entendia. a filha dela (no caso eu) assistiu, amou e entendeu o recado.
o recado que eu entendi aos 13 foi muito além do básico não use drogas, use camisinha. eu entendi que não existem fronteiras para a poesia e a arte. entendi que é preciso coragem para assumir os efeitos colaterais de ser quem se é. entendi que ser fora da curva exige uma puta resiliência. mesmo que você seja um mimado da zona sul carioca.
o recado que eu entendo hoje aos 34 (quase a idade que minha mãe tinha na época) é que escolher criar uma filha autônoma e com pensamento crítico numa cidade conservadora não deve ter sido tarefa fácil. meus pais foram chamados na escolha porque eu cantava Mamonas Assassinas, porque eu era fã de Cazuza e porque eu falava demais.
mas em algum momento, eu aprendi a me comportar.
minha avó materna era tida como bruxa. e ela era mesmo. mas claro que as pessoas falavam isso num sentido negativo. ela dominava as ervas, as plantas, os rezos e as palavras. uma grande feiticeira e poeta.
uma avó bruxa, uma mãe maluca e uma filha… bem, uma filha certinha demais. guardei minhas loucuras e bruxarias para os bastidores e botei no palco aquilo que esperavam de mim. me tornei cúmplice de todos aqueles que apontaram dedos para as mulheres que me criaram. me tornei um modelo para não ter que sustentar o que elas sustentaram.
falo com orgulho de tudo o que elas fizeram por mim para que eu chegasse até aqui. mas me pergunto: até que ponto honro o legado delas se me mantenho dentro das normas que as excluem?
ser aceita por quem eu nem conhecia se tornou mais importante do que fazer parte do meu próprio clã. tem noção disso?
ano passado, eu estive imersa no processo Danza Medicina, guiada pela mestra Morena Cardoso. e ali ela disse: “mulheres precisam enlouquecer um pouco para sustentar esse mundo”. e foi ali, completamente nua no meio do mato com outras mulheres, que eu vi nitidamente o que tanto ignorava.
“será que eu sou medieval? baby, eu me acho um cara tão atual!”. eu também me achava, Caju. eu também me achava…
todo mundo adora propagar frases feitas que dizem que “o normal é chato”, mas todo mundo também tem um medo danado de enlouquecer. até porque ser Hermione sempre fui muito mais valorizado do que ser Luna Lovegood (referência boa pras minhas millenials).
mas o único antídoto para o tédio, a falta de criatividade, a insatisfação e a sensação de estar desperdiçando seu tempo na terra é aceitar ser vista como uma grande maluca, lunática, tantan das ideias enquanto ouve profundamente a sua intuição, descobre o poder das plantas, faz feitiço com as palavras, dança sozinha na sala, ouve seu corpo e desafia o mundo com suas interrogações suspensas no ar.
o que tenho aprendido ultimamente é que só vamos encontrar respostas quando pararmos de procurar a cura e abraçarmos o caos. assim, e só assim, voltaremos a nos sentir pertencentes ao que realmente importa.
antes que eu me esqueça…
aqui você conhece os detalhes do meu processo de mentoria na Comunicação Desejante. um trabalho guiado com cuidado, presença, pitadas de magia e estratégia. estruturamos juntas os seus bastidores para que quando chegue a hora de mostrar quem você é e expressar o que você cria, você nunca mais se esconda.
aqui você se torna patrocinadora desta newsletter e se escolher o plano anual, ganhará de presente um workbook com exercícios de escrita auto investigativa para você começar a nutrir e cultivar uma relação gostosa consigo — porque não basta se conhecer, é preciso se relacionar com você.
aqui você conhece os detalhes da vivência Amazen Liderança Feminina que vai acontecer no feriado de Corpus Christi na Amazônia! sem falsa modéstia, eu posso te garantir: será a experiência mais transformadora da sua vida. foi assim por aqui. as vagas são limitadas, hein?
curadoria da semana
🎧 no episódio da semana do podcast a gente pensa juntas sobre pra onde vão os sonhos que a gente não realiza — mas eu prometo que é de um jeito gostoso que vai alimentar sua vontade de viver
🎬 se tem um conteúdo que me diverte nessa vida é o da Jacira Doce
📚 um dos livros mais lindos que já li foi Homens Imprudentemente Poéticos do Valter Hugo Mãe — aliás, leiam tudo dele! nunca decepciona!
“ voltar a nos sentir pertencentes ao que verdadeiramente importa” — isso aí é chave de ouro que abre calabouços, Yna.
Fiquei aqui pensando que quando chegar a hora de colocarmos uma vivência Desejante e Vagarosa no mundo, vamos ter que achar uma floresta para irmos todas ficar peladas e uivar pra lua, pois, sim, lunáticas e exageradas ❤️
Cheguei hoje, vc é maravilhosa! Que conteúdo maravilhoso! 🤍🙏🏽