a palavra obediência me apavora
sai da igreja, resta a fé
cresci num lar um pouco atípico pra realidade da cidade onde nasci. lá, a maioria da população é cristã. para ser mais específica, quando eu era criança, acredito que a maioria era católica — essa realidade provavelmente mudou com o avanço da igreja evangélica.
mas em casa era diferente: pai católico não praticante, mãe não religiosa e sedenta por conhecimento.
por conta da minha avó paterna, fiz o catecismo e a primeira comunhão. minhas lembranças são: a vontade de chorar e a tentativa de não ir antes de sair de casa, o ioiô da coca-cola que era febre na época e a gente brincava no intervalo, meu crush que chamava Matheus e o meu vestido do dia da primeira comunhão que era 4 dedos acima do joelho, conforme desaconselhado. e como você pode perceber pelo meu tom, eu realmente sinto orgulho disso.
já por conta da minha mãe, eu frequentei centro espírita, templo budista e igrejas diferentes. só não frequentei terreiro porque ela tinha tido uma experiência negativa em um e, na época, não pretendia voltar.
por minha conta, risco e curiosidade, frequentei alguns terreiros de umbanda, centros kardecistas, cultos evangélicos e o budismo de Nitiren Daishonin. não me identifiquei com nenhum.
eu amo conversar com os guias dos terreiros, tomar um passe nos centros espíritas, a filosofia budista como um todo, sentar numa igreja qualquer quando não está acontecendo nada e apenas contemplar o silêncio — se a igreja for cheia de imagens, eu não fico porque tenho pavor de algumas imagens sacras, vai entender…
mas de todas as filosofias e religiões, o cristianismo é o que eu menos me identifico.
“senhor, eu não sou digno de entrar em sua morada”. nunca gostei de dizer essa frase. a depreciação que a pregação católica traz me incomoda. Jesus se sacrificou por nós, então estamos salvos, mas precisamos constantemente nos lembrar que somos pecadores indignos.
não podemos querer mais da vida, não podemos questionar, não podemos enriquecer, não podemos amar quem somos. pecadores, humildes e indignos.
eu também não gostava nada da manipulação de sentimentos que a igreja evangélica fazia. me lembro de uma vez que fui num acampamento religioso junto com uma amiguinha evangélica. eles acenderam uma fogueira, começaram a cantar uma música super triste e eu comecei a chorar desesperadamente.
“na minha vida, eu te exalto, eu te exalto, Senhor”, nunca esqueci essa letra. eu tinha uns 7 anos e toda aquela cena me deu uma vontade enorme de voltar pra minha casa. no final, a monitora passou com uma prancheta perguntando o motivo do choro. eu aos prantos respondi: “eu tô com saudade da minha mãe”. grande despertar espiritual!
mas eu acredito que Jesus existiu.
eu acredito mesmo que ela andou por essa Terra, nasceu de Maria e José (sim), teve irmãos, amores e amigos como todo homem, mas como poucos, teve a capacidade se questionar e ver além da curva. acredito que foi um homem bom, que tentou passar uma mensagem boa e revolucionária e morreu justamente por isso.
não acredito na Bíblia como um livro sagrado. acredito nela como um livro histórico escrito por seres humanos. por isso, contém falhas e alterações que atendem melhor aos interesses da época.
inclusive, descobri recentemente que foi encontrado um evangelho de Judas, o Iscariotes, no Egito! além do de Maria Madalena que também foi excluído da jogada. para mim, a Bíblia serve a interesses políticos. Jesus, não.
no início desse ano, li um livro chamado Cartas de Cristo por recomendação de uma grande amiga e parceira de questionamentos. o livro foi psicografado por uma mulher anônima e, segundo a história, Jesus teria passado 40 anos treinando-a para receber suas mensagens sem interferências das próprias crenças e pensamentos.
se você não acredita na possibilidade de alguém psicografar algo (mesmo com a existência de Chico Xavier comprovando o contrário) ou se você tem dificuldades de acreditar que essa senhora desconhecida recebeu mensagens de Jesus, ainda assim, eu recomento. leia como uma ficção! aprendemos tanto lendo histórias de dragões e escolas de magia, por que não dar uma chance?
o livro é fantástico e flerta diretamente com o Caibalion.
o Caibalion é, para mim, o livro que mais se conecta com a visão que eu tenho do mundo. publicado pela primeira vez em 1908, o livro traz os ensinamentos que eram ensinados nas escolas herméticas do Antigo Egito. eu recomendo que você pesquise sua história mais a fundo porque é bastante interessante.
bem basicamente, o livro diz que o universo é regido por 7 leis universais: mentalismo, correspondência, vibração, polaridade, ritmo, causa e efeito e gênero. e se você parar para reparar, verá todas elas acontecendo a todo momento. é impressionante.
acredito em Deus como um Todo. não acredito em céu e inferno e, para mim, Lúcifer não é um demônio, mas o Anjo da Luz que desafiou o status quo em busca de conhecimento. como Lilith. como Eva quando morde o fruto proibido. todo ser que busca o conhecimento é expulso do paraíso porque a ignorância é mesmo uma benção — e a maior de todas as maldições.
acredito em deuses, orixás, elementais e entidades porque acredito nas leis herméticas do mentalismo e da vibração. tudo o que um determinado coletivo crê com muita fé, passa a existir no Universo. somos co-criadores da realidade, não para esbravejar discurso meritocrático vazio, mas para termos consciência de que o que vemos é o que criamos coletiva e individualmente.
não é possível, para mim, emaranhar a minha fé a dogmas criados por seres humanos para controlar outros seres humanos. a fé, a meu ver, não deveria limitar, mas expandir consciências.
mas esse texto não é um manifesto contra pessoas religiosas. como venho dizendo para vocês, eu acredito na liberdade dos seres de escolher viver como desejam, mesmo que eu não pense da mesma forma.
eu quero que você possa fazer suas oferendas, ou mantrar o Nam Myoho Renge Kyo, ou rezar o seu terço, ou cantar o seu louvor em alto e bom som sem que ninguém encha o seu saco ou te peça para ser diferente.
do lado de cá, sigo pertencendo ao meu clã e misturando tudo o que me faz sentido. ritualizo para Freya e Afrodite como fiz no último Feitiço, presenteio uma grande amiga com um terço lindo de rosas feito pelas mãos da minha sogra, cantarolo pontos para Oxum e Nanã, acendo minha vela para Santa Sara Kali e todos os dias, sem pular nenhum, solto alguma dessas frases: “Deus é bom o tempo todo!”, “glória a Deus”, “tá amarrado em nome de Jesus!” (ou em nome da Deusa, essa varia).
acredito que Deus dá em dobro, mas a Deusa dá em triplo e que tudo o que você me deseja volta 3 vezes para você. bom ou ruim. e, claro, essa lei serve para mim também.
por isso, não estou aqui para te convencer a ver a fé como eu vejo. nem para esbravejar que essa é a verdade absoluta. eu posso, sim, estar errada. mas é dessa forma questionadora e inquieta que eu escolho viver e aceito as consequências disso.
eu não sei ser de outra forma. aos 4 anos de idade, passei uma gilete no meu dedão esquerdo porque eu queria saber como era. eu precisava e ainda preciso ver, sentir e experimentar as coisas com as minhas próprias mãos.
mas isso não faz de mim uma pessoa especial, escolhida por alguma deidade, superior ou inferior a outro grupo. é só quem eu sou. como talvez seja provavelmente você que me lê. e sendo bem sincera, apesar de muitas vezes me sentir desencaixada, eu amo ser desse jeito.
eu amo mesmo ser uma grande inconformada e buscadora. eu amo desdizer o que eu disse, desacreditar no que acreditava, descobrir novos mundos, linguagens, crenças e desafiar verdades absolutas. é extremamente cansativo, e muitas vezes eu só queria ser mais tranquila. mas eu amo, não tem jeito.
a palavra obediência me apavora.
arrepia os pelos da nuca e desperta o bicho-raiva.
não nessa vida!
que nada nos prenda, nos limite, nos molde e nos cegue.
que a vida nos expanda, nos encante, nos bagunce e nos surpreenda.
assim se faça.
agenda Desejante
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curadoria da semana
🎧essa nova música da Rosalía, pelo amor de deus
🎬esse vídeo sobre o evangelho de Judas (todo o canal, na verdade)
📚a proposta da
de escrever sua news como se fosse uma exposição e nos guiar por salas e pensamentos, me encanta!




