A lista de desejos que eu não realizei.
E porque eu finalmente entendi o Belchior por ter escrito que “viver é melhor que sonhar”
Hoje eu tive minha sessão semanal de análise e o tema abordado foi essa sensação infantil de que existe algum lugar ou alguma circunstância onde a gente é 100% feliz o tempo todo e tudo ocorre 100% bem o tempo todo. E o mais engraçado de eu ter essa pseudo-vontade de habitar esse mundo é que eu costumo me irritar profundamente com gente feliz demais. Eu não confio. Fico esperando a bomba estourar a qualquer momento.
Simplesmente porque eu sei que não se pode ser uma única coisa. É impossível uma música fluir com uma única nota. É impossível ser gente e ser do mesmo jeito o tempo todo. Mesmo que você tente, o seu corpo vai tacar na tua cara todos os dias na frente do espelho a passagem do tempo e as suas mudanças nessa travessia.
Eu sei de tudo isso e mesmo assim, lá dentro, bem dentro, quase silenciosa, mas ainda audível, existe essa vozinha que me diz: “deve ter um jeito…”
Em seu livro “Mutações”, a atriz Liv Ullmann descreve belissimamente a relação com essa voz infantil que deseja o impossível (se você me segue há um tempo ou se é minha aluna já me viu falando esse trecho algumas vezes. Vou trazê-lo de novo porque sempre vale a pena):
“‘Existe uma menina em mim que se recusa a morrer’, escreveu a autora dinamarquesa Tove Ditlevsen. Eu vivo, me alegro, sofro, e estou sempre lutando para me tornar adulta. Mas todos os dias, porque alguma coisa que eu faço a afeta, ouço a voz da menina, lá dentro de mim. Ela, que há tantos anos era eu. Ou quem eu pensava que fosse. A voz é ansiosa, quase sempre de protesto, embora algumas vezes débil, e cheia de expectativas e angústia. Não quero prestar atenção nela, porque nada tem a ver com minha vida adulta. Mas a voz me deixa insegura. (…) Ela que está em mim e “se recusa a morrer” ainda espera algo diferente. Nenhum sucesso a satisfaz, nenhuma felicidade a acalma”
Nenhuma felicidade a acalma. Simplesmente porque ela sonhava com o invisível e inexistente nesse mundo matéria. Ou com feitos grandiosos demais! Fantasiosos demais! E nenhum de seus planos deu certo. Minha pequena sonhava em ser modelo da Victoria’s Secret e se casar com o Daniel Radcliffe (vulgo Harry Potter). Depois disso, seria uma estilista famosa. Depois uma atriz famosa e ganharia um Oscar!
Eu a decepcionei. Na minha primeira seleção como modelo fui embora chorando de pavor. Não fiz faculdade de moda. Realmente sou atriz formada, mas estou tão distante do Oscar que não consigo nem pensar numa medida pra isso. Ainda não me casei (só me considero casada depois da festa), mas divido a vida com um homem que não se parece com o Daniel nem no branco dos olhos!
Ela, a pequena que me habita, já se sentiu mais traída. Já esperneou bem mais e fez a minha versão adulta ter altas crises existenciais. Hoje sua voz é minúscula, mas ainda existe. E dependendo de onde está a lua ou da fase do meu ciclo, eu a ouço nitidamente.
A verdade é que eu tive uma conversa bem honesta com ela enquanto Saturno ainda estava retornando por aqui. Foi mais ou menos assim:
Olha, criança. De fato, eu não te dei o que você sonhava e não tô aqui pra te prometer que na volta a gente compra. Tô aqui pra te dizer que a gente cresceu. Eu sou você. E hoje quem decide as coisas sou eu, afinal, sou eu quem vai viver as consequências dessas escolhas. A atual protagonista da nossa jornada já não é mais criança tem um tanto de tempo. Aqui na vida adulta, as coisas tem outra perspectiva. Outra urgência, sabe? E eu não tenho como te explicar porque o Lucas é muito - mas muito - melhor do que o tal do Radcliffe porque você não tem idade pra saber dessas coisas. Mas o que você pode saber é: ele é real. Assim como toda essa vida que eu tô vivendo agora. Ela é real. É de verdade. É palpável e visível. E eu sei que pra você pode parecer muito chato, mas eu finalmente entendi porque Belchior escreveu que “viver é melhor que sonhar”. Você não vai entender e eu não te peço que entenda. Eu te peço que confie em mim. Eu sei o que eu tô fazendo pra gente. É a minha vez de correr os 100 metros nesse revezamento. E eu tô focada em passar o bastão pra minha versão de 40 poder, quem sabe, andar tranquilamente desfrutando cada passo desses 100 metros. Por isso, eu te peço: confia em mim.
Eu sinto que ela confia. Quem sabe essa voz que eu ainda ouço seja eu mesma aos 32 buscando um pouco da magia que ela via? Talvez…
A vida real é agridoce. A vida adulta, então… Mas não existe saída quando o que se deseja é ter autonomia: é preciso e é urgente adultecer. E isso implica renunciar a versões de si que não te cabem mais. Isso também implica renunciar a alguns sonhos. Mas, ó… eu te garanto: fica tudo bem! Porque você ainda não faz ideia dos caminhos que a sua felicidade encontra quando você para de dizer pra ela onde ela tem que ir. Deixa ela livre pra descobrir.
A vida real não é preto no branco e nem tons de cinza. É furtacor (que eu amo dizer que é minha cor preferida mesmo não sendo uma cor de fato). E deixar de vivê-la por medo de “se definir e se limitar” ou de “perder a magia nos seus dias” te distancia do estado de presença que é a preciosidade que buscamos aqui.
(Agora, cá entre nós, eu não quero te impedir de fazer um drama e se jogar na cama ouvindo Adele vez ou outra imaginando que essa imagem ficaria belíssima numa cena de um filme. Eu seria absurdamente cruel se tirasse de você a possibilidade de performar. Afinal, esse é um dos meus hobbies preferidos!)
Minha mãe sempre me disse que queria que eu vivesse cada fase da minha vida como ela é. A infância na infância. A adolescência na adolescência. A adulta na adulta. Bom… aqui estamos nós!
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Aquela chamada perfeita para o presente!!
Tenho cada vez mais pensado na minha criança interior e nas minhas dificuldades em enfrentar a vida adulta, essa newsletter caiu como uma luva! Esse retorno de Saturno não tá sendo fácil 😫